A esquizofrenia é definida como a presença de alucinações e delírios causadores de consideráveis disfunções psicossociais com duração ≥ 6 meses.
(Ver também Esquizofrenia em adultos.)
O típico início da esquizofrenia ocorre de meados da adolescência até por volta dos 30 anos, com pico de idade de início por volta dos 20 anos. O aspecto dos adolescentes e adultos jovens é praticamente o mesmo. A esquizofrenia em crianças pré-púberes (esquizofrenia de início na infância), em que os sintomas semelhantes àqueles da forma de início na idade adulta jovem/adolescência se desenvolvem antes dos 13anos, é extremamente rara (1).
Embora o primeiro episódio geralmente ocorra em adultos jovens, alguns eventos e experiências contributivas durante o neurodesenvolvimento acontecem mais cedo (p. ex., durante o período perinatal).
Esses fatores de risco perinatais incluem os seguintes:
Doenças genéticas (particularmente aquelas que aumentam o risco de início na infância)
Exposição a determinados fármacos ou substâncias (p. ex., canábis [maconha]) durante um período vulnerável
Desnutrição pré-natal
Complicações no parto, hipóxia, infecção perinatal, insuficiência ou descolamento prematuro da placenta
Lesão cerebral na infância
Outros fatores de risco que ocorrem posteriormente (p. ex., o uso de drogas ilícitas mais tarde na adolescência), podem então desencadear o aparecimento da esquizofrenia.
As manifestações da esquizofrenia com início na infância são semelhantes àquelas em adolescentes e adultos, mas os delírios e as alucinações visuais (que podem ser mais comuns em crianças) podem ser menos elaborados. Características adicionais também ajudam a distinguir a esquizofrenia com início na infância da forma em adultos jovens/adolescentes (1):
Sintomas mais graves
História familiar forte
Aumento da prevalência de anomalias genéticas, anormalidades do desenvolvimento (p. ex., transtorno invasivo do desenvolvimento, deficiência intelectual) e alterações motoras
Aumento da prevalência de dificuldades sociais pré-mórbidas
Início insidioso
Deterioração cognitiva
Alterações neuroanatômicas (perda progressiva do volume da substância cinza cortical, aumento do volume ventricular)
O súbito aparecimento da psicose na criança deve sempre ser tratado como uma emergência médica, com avaliação psicológica das alterações do estado mental e causas clínicas; essas causas incluem (2):
Fármacos terapêuticos (p. ex., estimulantes, corticoides, anticolinérgicos)
Drogas recreativas (p. ex., canábis [maconha])
Doenças do sistema nervoso central (SNC), incluindo infecção (viral, bacteriana, parasitária), tumores, doenças desmielinizantes, lesões, convulsões ou enxaquecas
Doenças autoimunes [p. ex., encefalite anti-receptor-N-metil-d-aspartato (rNMDA)] (3), LES]
Endocrinopatias (p. ex., hipertireoidismo e hipocortisolemia)
Distúrbios do sono
Doenças metabólicas (porfiria, doença de Wilson, gangliosidose GM2)
Doenças de depósito lisossômico
Deficiências nutricionais (magnésio e vitaminas A, D, B1, B3 e B12)
Anormalidades cromossômicas (22.11q, XXY, XO, X frágil, síndrome de Prader-Willi, doença de Fahr)
COVID-19 (4–7)
Pesquisas recentes indicam que há maior risco de desenvolvimento de certos transtornos psicóticos (especificamente o transtorno bipolar e a esquizofrenia) em adolescentes que utilizam produtos de canábis (maconha) contendo tetraidrocanabinol (THC; 8). Esse maior risco não é explicado por fatores genéticos. Há uma preocupação de que a legalização da maconha possa dar aos adolescentes (e seus pais) uma falsa sensação de que essa droga ilícita comum é segura.
Há vários relatos de psicoses em adolescentes sintomáticos (6, 7) e assintomáticos (5, 4) com infecções por covid-19, bem como aumento das taxas de internações em unidades psiquiátricas por psicose em jovens sem infecções por covid (9).
O tratamento da esquizofrenia em crianças e adolescentes é complexo, com resultados variáveis, e recomenda-se veementemente encaminhamento para um psiquiatra especialista em crianças e adolescentes.
Referências gerais
1. Driver D, Thomas S, Gogtay N, et al: Childhood-onset schizophrenia and early-onset schizophrenia spectrum disorders: An update. Child Adolesc Psychiatric Clinic N Am 29(1):71-90, 2020. doi: 10.1016/j.chc.2019.08.017
2. Skikic M, Arriola JA: First episode psychosis medical workup: Evidence-informed recommendations and introduction to a clinically guided approach. 29(1):15-28, 2020. Child Adolesc Psychiatr Clin N Am. doi: 10.1016/j.chc.2019.08.010
3. Dalmau J, Lancaster EL, Martinez-Hernandez E, et al: Clinical experience and laboratory investigations in patients with anti-NMDAR encephalitis. Lancet Neurol 10(1):63-74, 2011. doi: 10.1016/S1474-4422(10)70253-2
4. Taquet M , Sillett, Zhu L, et al: Neurological and psychiatric risk trajectories after SARS-CoV-2 infection: An analysis of 2-year retrospective cohort studies including 1,284,437 patients. Lancet Psychiatry 9:815-827, 2022. doi: 10.1016/S2215-0366(22)00260-7
5. Meeder R, Adhikari S Sierra-Cintron, et al: New-onset mania and psychosis in adolescents in the context of COVID-19 infection. Cureus 14(4): e24322, 2022.
6. Bashir Z, Butt IM, Vemuri MK, et al: Acute SARS-CoV-2–induced psychosis in an adolescent. Pediatrics 150(3):e2021056004, 2022. https://doi.org/10.1542/peds.2021-056004
7. Ngo B, Lapp ST, Siegel B, et al: Cerebrospinal fluid cytokine, chemokine, and SARS-CoV-2 antibody profiles in children with neuropsychiatric symptoms associated with COVID-19. Mult Scler and Relat Disord 55:103169, 2021. doi: 10.1016/j.msard.2021.103169
8. Di Forti M, Quattrone D, Freeman TP, et al: The contribution of cannabis use to variation in the incidence of psychotic disorder across Europe (EU-GEI): A multicentre case-control study. Lancet 6:427-436, 2019. http://dx.doi.org/10.1016/S2215-0366(19)30048
9. Deren B, Matheson K, Cloutier P: Rate of adolescent inpatient admission for psychosis during the COVID-19 pandemic: A retrospective chart review. Early Interv Psychiatry10.1111/eip.13316, 2022. doi: 10.1111/eip.13316