Dislexia

PorStephen Brian Sulkes, MD, Golisano Children’s Hospital at Strong, University of Rochester School of Medicine and Dentistry
Revisado/Corrigido: abr. 2024
Visão Educação para o paciente

A dislexia é um termo geral que descreve distúrbios de leitura, específicos. O diagnóstico é realizado por meio avaliações intelectuais, educacionais, fala, linguagem e psicológica. O tratamento é baseado em condutas educacionais, com instruções na habilidade de reconhecimento e composição da palavra.

A dislexia é um termo específico do transtorno de leitura. Portanto, esses transtornos envolvem problemas de leitura, matemática, ortografia, expressões escritas ou manuscritas, compreensão ou uso da linguagem verbal ou não verbal (ver tabela Transtornos de aprendizagem específicos comuns).

Nenhuma definição de dislexia é universalmente aceita, portanto a incidência é indeterminada. Estima-se que 15% das crianças em escolas públicas, nos Estados Unidos, recebem instruções especiais para leitura; destas, metade podem ter dificuldades persistentes de leitura (1, 2). A dislexia é identificada mais frequentemente em meninos, mas o sexo não é fator de risco do seu desenvolvimento.

A inabilidade de aprender regras da linguagem impressa é considerada parte da dislexia. Crianças afetadas podem ter dificuldades de determinar a raiz ou a procedência das palavras e determinar na palavra qual a sequência das letras.

Problemas de leitura diferentes da dislexia são geralmente causados por inabilidade na compreensão da palavra ou insuficiência cognitiva. Problemas de percepção visual e movimentos oculares anormais não são dislexia. Entretanto, estes problemas podem interferir posteriormente no aprendizado da palavra.

Referências gerais

  1. 1. National Center for Educational Statistics: Students with disabilities. In The Condition of Education 2023 U.S. Department of Education, Institute of Education Sciences.

  2. 2. Wagner RK, Zirps FA, Edwards AA, et al: The Prevalence of Dyslexia: A New Approach to Its Estimation. J Learn Disabil 53(5):354–365, 2020. doi:10.1177/0022219420920377

Etiologia da dislexia

As diferenças no processamento da informação auditiva são frequentemente citadas como causas das deficiências de leitura (1). Problemas de processamento fonológicos causam deficits na discriminação, combinação, memória e análise dos sons. A dislexia pode afetar a produção e a compreensão da linguagem escrita que frequentemente é limitada por problemas como memória auditiva, elaboração da fala e nomeação ou encontro de palavras. Estão frequentemente presentes debilidades basais na linguagem verbal.

Referência sobre etiologia

  1. 1. McWeeny S, Norton ES: Auditory Processing and Reading Disability: A Systematic Review and Meta-Analysis, Scientific Studies of Reading 28(2):167–189, 2024, doi: 10.1080/10888438.2023.2252118

Fisiopatologia da dislexia

A ocorrência da dislexia tende a ser familiar. Crianças com história familiar de dificuldades de leitura ou aprendizado são tidas como de alto risco. Alterações encontradas no cérebro de disléxicos fazem os especialistas acre-ditarem que ela resulte predominantemente de anormalidades congênitas do desenvolvimento neural. Suspeitam-se ainda de lesões que afetam a integração ou interação de funções cerebrais específicas. A maioria dos pesquisadores concordam que a dislexia está relacionada com o hemisfério esquerdo e associada a disfunções de áreas cerebrais responsáveis pela linguagem (área motora da fala de Wernicke; ver figura Áreas do cérebro) e produção do som e fala (área motora da fala de Broca) e na interconexão destas áreas via fascículo arqueado. Disfunções ou defeitos no giro angular, na área occipital medial e no hemisfério direito produzem problemas de reconhecimento da palavra. Pesquisas sugerem alguma maleabilidade cerebral em resposta ao treinamento.

Áreas do cérebro

Sinais e sintomas da dislexia

A dislexia pode manifestar-se como

  • Atraso na aquisição da palavra

  • Dificuldades na articulação da palavra

  • Dificuldades de lembrar os nomes das letras, números e cores

  • Dificuldades em lidar com palavras apesar das habilidades normais para cálculos matemáticos

As crianças com problemas de processamento fonológico têm com frequência dificuldades de diferenciar os sons, o ritmo das palavras, a identificar a posição dos sons nas palavras e a segmentação da palavra em componentes pronunciáveis. Elas podem reverter a ordem dos sons na palavra. São considerados como sinais precoces o atraso ou hesitação na escolha ou substituição das palavras, denominação das letras e desenhos. São ainda comuns as dificuldades da memória auditiva recente e as do sequenciamento auditivo.

Uma minoria de crianças com dislexia tem dificuldades com as demandas visuais da leitura. Entretanto, algumas crianças confundem letras e palavras com configurações semelhantes ou têm dificuldade de selecionar ou identificar visualmente grupos ou padrões de letras (associação som-símbolo). Podem ocorrer reversões ou confusões visuais, mais frequentemente decorrentes de dificuldades de retenção ou acesso que levam as crianças afetadas a esquecer ou confundir os nomes das letras e palavras com estrutura semelhante; subsequentemente d torna-se b, m torna-se w, h torna-se n, foitorna-se viu e aceso torna-se não. Contudo, essas confusões são normais em crianças com < 8 de idade e podem não representar um problema.

Embora a dislexia seja um problema para toda a vida, muitas crianças desenvolvem aptidões de leitura funcional. Entretanto, outras crianças nunca alcançam alfabetização adequada.

Diagnóstico da dislexia

  • Avaliação da leitura

  • Avaliações da fala, linguagem e audição

  • Avaliações psicológicas

(Ver também Avaliação dos transtornos de aprendizagem.)

A maioria das crianças com dislexia não são identificadas até o jardim de infância ou o 1º grau, quando elas aprendem a desenhar os símbolos. Devem ser avaliadas as crianças com história de atraso na aquisição ou uso da linguagem, que não aceleram o aprendizado da palavra até o 1º grau, ou que não conseguem ler em nível esperado para suas habilidades verbais ou intelectuais, em qualquer grau de escolaridade. O melhor indicador diagnóstico é a inabilidade da criança em responder às abordagens de leitura tradicional ou típicas, durante o 1º grau, embora uma ampla variação de habilidades de leitura possa ser vista nesta fase. A demonstração de problemas de processamento fonológico é essencial para o diagnóstico.

Crianças com suspeita de dislexia devem ser submetidas a avaliações de leitura, fala, linguagem, audição, função cognitiva e psicológica, para identificar suas firmezas ou debilidades e seu estilo preferido de aprendizagem. Estas avaliações podem ser solicitadas dos profissionais da escola, pelo professor ou família da criança, baseadas em Individuals with Disabilities Education Act (IDEA), uma lei norte- primária sobre educação especial, nos Estados Unidos. Após a avaliação, é orientada uma abordagem de instrução mais eficaz.

As avaliações da compreensão da leitura testam o reconhecimento e análise da palavra, a fluência, a compreensão da leitura, o nível de atenção, de compreensão do vocabulário e processo de leitura.

As avaliações da fala, linguagem e audição testam a linguagem falada, e deficiências no processamento dos fonemas (sons elementares) da linguagem falada. Funções da linguagem receptiva e expressiva também são avaliadas. Testam-se as habilidades cognitivas (p. ex., atenção, memória, raciocínio).

A avaliação psicológica aplica-se aos cuidados emocionais que podem exacerbar a inabilidade de leitura. Deve-se avaliar uma história familiar completo sobre problemas emocionais ou mentais.

O clínico deve assegurar-se de que a audição e visão da criança sejam normais e, na dúvida, encaminhar para testes visuais e audiométricos. A avaliação neurológica pode ajudar a encontrar aspectos secundários (p. ex., imaturidade no desenvolvimento neural, ou anormalidades neurológicas menores) e afastar outros processos (p. ex., convulsões).

Tratamento da dislexia

  • Intervenções educacionais

O tratamento da dislexia consiste em intervenções educacionais, incluindo instruções diretas ou indiretas quanto às habilidades de reconhecimento de palavras ou componentes.

Instruções diretas incluem o ensino de habilidades fonéticas específicas separadas de outras instruções sobre a leitura. Instruções indiretas incluem integração de habilidades fonéticas incluídas nos programas de leitura. As instruções podem ensinar a leitura da palavra como um todo ou abordagem da linguagem global, ou seguindo uma hierarquia de habilidades da unidade fonética, para a palavra e para a sentença. São recomendadas as abordagens multissensoriais, que incluem o aprendizado da palavra toda e procedimentos de integração visual, auditiva, e discernimento, para entender o som, a palavra e a sentença.

As instruções de composições de destreza consistem em ensinar à criança a combinar sons para formar a palavra, segmentos da palavra em partes da palavra e identificar as posições dos sons nas palavras. As habilidades de composição para compreensão da leitura incluem identificação da ideia principal, responder perguntas, isolar fatos e detalhes e dedução da leitura. Muitas crianças se beneficiam com o uso do computador para ajudar a isolar palavras dentro de textos ou processando a palavra escrita.

Estratégias compensatórias, como o uso de audiobooks e anotações utilizando um gravador digital, podem ajudar as crianças nas séries do ensino fundamental posterior a dominar o conteúdo e, o mesmo tempo, continuar a construir habilidades de leitura.

Tratamentos como treinamentos optométrico, perceptuais e de integração auditiva, e fármacos, não foram aprovados e não são recomendados.

Pontos-chave

  • A dislexia envolve dificuldade em ler, produzir e compreender a linguagem escrita; também pode haver problemas como memória auditiva, produção da fala, nomeação ou descoberta de palavras e problemas com palavras.

  • A dislexia provavelmente resulta de anormalidades congênitas do neurodesenvolvimento que afetam as áreas do hemisfério esquerdo do cérebro responsáveis pela associação da linguagem, produção do som e da fala, as interconexões entre essas áreas, ou uma combinação.

  • Crianças podem ter atraso na produção de linguagem, mas às vezes o primeiro indicador é a incapacidade de responder a instruções típicas de leitura durante o início do ensino fundamental.

  • Descartar distúrbios cognitivos, psicológicos, auditivos e visuais.

  • Utilizam-se várias intervenções educacionais, mas as pesquisas não apoiam o treinamento optométrico, o treinamento perceptivo ou o treinamento de integração auditiva para a maioria das crianças.

Informações adicionais

Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Individuals with Disabilities Education Act (IDEA): lei norte-americana que disponibiliza educação pública adequada e gratuita para crianças com deficiência elegíveis e garante educação especial e serviços relacionados a essas crianças

  2. International Dyslexia Association: An organization providing resources and services to professionals, advocates, individuals, and families impacted by dyslexia

  3. Learning Disabilities Association of America (LDA): An organization providing educational, support, and advocacy resources for people with learning disabilities

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