Como aplicar ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu)

PorDorothy Habrat, DO, University of New Mexico School of Medicine
Revisado/Corrigido: jul. 2022
Visão Educação para o paciente

A ventilação com ambu (bolsa-válvula-máscara) é o método padrão para fornecer rapidamente ventilação de resgate a pacientes com apneia ou insuficiência ventilatória grave.

(Ver também Obtenção do controle das vias respiratórias, Como aplicar manobras de inclinação da cabeça/elevação do queixo e tração da mandíbula, Como inserir uma cânula orofaríngea e Como inserir uma cânula nasofaríngea.)

Na ventilação com ambu, uma bolsa autoinflável (bolsa de reanimação) é conectada a uma válvula não respiratória e então a uma máscara facial que adapta-se aos tecidos moles da face. A extremidade oposta da bolsa é conectada a uma fonte de oxigênio (100% de oxigênio) e geralmente a um reservatório. A máscara é mantida manualmente firme contra a face, e o ato apertar a bolsa ventila o paciente pelo nariz e pela boca. A menos que contraindicado, utilizam-se das vias respiratórias adjuvantes, como cânulas nasofaríngeas e/ou orofaríngeas, durante a ventilação com ambu para ajudar a manter a via respiratória pérvia. Deve-se utilizar válvulas de pressão expiratória final positiva (PEEP) se for necessária assistência adicional para a oxigenação sem contraindicações ao seu uso.

A correta ventilação com ambu requer competência técnica e depende de 4 elementos:

  • Via respiratória pérvia

  • Vedação adequada da máscara

  • Técnica de ventilação apropriada

  • Válvula PEEP se necessário para melhorar a oxigenação

O estabelecimento de uma via respiratória patente para ventilação com ambu exige

  • Manter a orofaringe livre de obstruções físicas (p. ex., língua, palato mole, secreções, vômitos e/ou corpos estranhos)

  • Posicionamento do paciente e manobras manuais adequadas para posicionar a língua e os tecidos moles das vias respiratórias altas de modo a não obstruí-las

  • Adjuvantes das vias respiratórias, como as cânulas nasofaríngea ou orofaríngea, para facilitar a troca gasosa eficaz (ver também Obtenção do controle das vias respiratórias)

O objetivo é obter rapidamente a ventilação e a oxigenação com sucesso.

Indicações para ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu)

  • Ventilação de emergência para apneia, insuficiência respiratória ou parada respiratória iminente

  • Pré-ventilação e/ou oxigenação, ou ventilação provisória e/ou oxigenação, durante as tentativas de obter e manter vias respiratórias artificiais definitivas (p. ex., entubação endotraqueal)

Contraindicações à ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu)

Contraindicações absolutas

Contraindicações relativas

  • Nenhum

Complicações da ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu)

Se a ventilação com ambu for utilizada durante um período prolongado ou se for feita incorretamente, pode-se introduzir ar no estômago. Se isso ocorrer e houver distensão gástrica, inserir uma sonda nasogástrica para remover o ar acumulado no estômago.

Equipamento para ventilação BVM

  • Luvas, máscara, capote e proteção para os olhos (isto é, precauções universais)

  • Cânulas respiratórias orofaríngeas, nasofaríngeas, pomada lubrificante

  • Ambu

  • Válvula de PEEP

  • Máscaras de ventilação de diversos tamanhos

  • Fonte de oxigênio (100% de oxigênio, 15 L/minuto)

  • Sonda nasogástrica

  • Aparelho de sucção e catéter de Yankauer; pinça Magill (se for necessário remover algum corpo estranho facilmente acessível e o paciente não tiver reflexo faríngeo) para desobstruir a faringe se necessário

  • Oxímetro de pulso

  • Capnógrafo

Considerações adicionais para bolsa-válvula-máscara (ambu)

  • Utilizar ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu) feita por duas pessoas sempre que possível. Uma ou duas pessoas podem ventilar com bolsa-válvula-máscara (ambu), mas a ventilação com duas pessoas é mais fácil e mais eficaz porque é necessário fazer a vedação estanque da máscara e isso costuma exigir 2 mãos segurando a máscara.

  • A menos que contraindicado, utilizar o auxílio de uma cânula faríngea ao ventilar com bolsa-válvula-máscara (ambu). Utilizar a cânula orofaríngea (Guedel), a menos que o paciente tenha o reflexo faríngeo preservado; nesses casos, utilizar a cânula nasofaríngea (tubo nasal). Utilizar cânulas nas duas narinas e uma cânula de Guedel se necessário, para a ventilação.

  • As características que predizem uma ventilação por ambu difícil (e, portanto, podem ajudar a resolver problemas se a ventilação for difícil) são descritas pelo mnemônico MOANS:

    • M — vedação da Máscara: barba e bigode ou traumas faciais podem interferir na produção de uma vedação adequada.

    • O — Obesidade/Obstrução: a obesidade pode ser um sinal de aumento de tecidos moles nas vias respiratórias e, portanto, pode causar oclusão adicional quando o paciente está obnubilado. A obstrução por outros tecidos moles ou um corpo estranho também pode impedir uma ventilação adequada.

    • A — idade (Age): extremos etários predizem que a ventilação com ambu será difícil em decorrência de alterações anatômicas.

    • N – Sem dentes. Realizar a ventilação com ambu em um paciente sem dentes geralmente é ineficaz; pode-se indicar uma via supraglótica.

    • S — ronco (Snoring): a respiração com roncos pode indicar que tecidos moles, em geral, a língua, estão ocluindo as vias respiratórias e que é necessário reposicionamento (p. ex., inclinar a cabeça, levantar o queixo, elevar e tracionar a mandíbula).

  • Pode-se utilizar uma válvula de pressão expiratória final positiva (PEEP) durante a ventilação com o ambu para melhorar a oxigenação. A PEEP pode aumentar o recrutamento alveolar e, portanto, a oxigenação se esta estiver comprometida, mesmo com 100% de oxigênio, devido a atelectasias. Também foi demonstrado que a PEEP previne as lesões pulmonares. No entanto, a PEEP deve ser utilizada com cautela nos pacientes hipotensos ou dependentes de pré-carga, por reduzir o retorno venoso.

Anatomia relevante para ventilação BVM

  • O alinhamento do meato auditivo externo com a incisura esternal pode ajudar a abrir a via respiratória superior para maximizar a troca de ar e estabelecer a melhor posição para a visualização, caso seja necessário entubar.

  • O grau de elevação da cabeça que melhor alinha a orelha e a incisura esternal varia (p. ex., nenhum em crianças com occipitais grandes, grau alto em pacientes obesos).

Posicionamento para ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu)

A posição olfativa (sniffing) — somente na ausência de lesão da coluna cervical

  • Colocar o paciente em decúbito dorsal na maca.

  • Alinhar as vias respiratórias superiores para a passagem ideal de ar colocando o paciente em uma posição olfativa adequada. A posição olfativa correta alinha o meato auditivo externo com a incisura esternal. Para alcançar a posição olfativa, pode ser necessário colocar coxins ou outro material sob a cabeça, pescoço ou ombros, a fim de estender a cabeça e elevar o queixo. Para os pacientes obesos, muitas toalhas dobradas ou um dispositivo comercial de elevação podem ser necessários para elevar suficientemente os ombros e o pescoço. Nas crianças, geralmente é necessário o coxim atrás dos ombros para acomodar o occipital aumentado.

Posicionamento da cabeça e do pescoço para abertura das vias respiratórias: posição olfativa

A: A cabeça está no nível na maca; as vias respiratórias estão constrictadas. B: A orelha e a incisura esternal são alinhadas, com a face paralela ao teto (na posição olfativa), abrindo as vias respiratórias. Adapted from Levitan RM, Kinkle WC: The Airway Cam Pocket Guide to Intubation, ed. 2. Wayne (PA), Airway Cam Technologies, 2007. 

Se houver possibilidade de lesão da coluna cervical:

  • Colocar o paciente em decúbito dorsal ou ligeiramente inclinado na maca.

  • Posicionar-se na cabeceira da maca.

  • Evitar mobilizar o pescoço e, se possível, utilizar apenas a manobra de impulso da mandíbula ou elevação do queixo sem inclinação da cabeça para facilitar manualmente a abertura das vias respiratórias superiores.

Descrição passo a passo da ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu)

  • Inserir uma cânula de Guedel (a menos que o paciente tenha reflexo faríngeo preservado) ou uma a duas cânulas nasofaríngeas antes da ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu).

  • Escolher a máscara que melhor se encaixe sobre a boca e o nariz, mas poupe os olhos.

  • Ventilar com ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu), de preferência com duas pessoas ventilando. (NOTA: O vídeo relacionado apresenta primeiro a técnica com uma pessoa ventilando.)

  • Utilizar a capnometria em forma de onda para monitorar os níveis de CO2 expirado final para avaliar a adequação das ventilações.

Técnica de ventilação por máscara com duas pessoas ventilando

  • Na técnica com duas pessoas fazendo a ventilação, o mais experiente assume a máscara, porque manter a vedação adequada da máscara é a tarefa mais difícil. A segunda pessoa ambusa.

  • Posicionar-se na cabeceira da maca e pedir que a segunda pessoa fique na lateral.

  • Utilizando as duas mãos, segurar a máscara entre os polegares e os indicadores posicionados nos dois lados da haste do conector.

  • Certificar-se de não colocar as mãos ou a máscara nos olhos do paciente, primeiro posicionando a parte nasal da máscara sobre o nariz, suficientemente alta para cobrir a ponte nasal sem vazamento de ar. A seguir, abaixar a máscara sobre o queixo e permitir que vede as 2 eminências malares. Cobrir a ponte nasal, as 2 eminências malares e o lábio inferior do paciente com a máscara para obter uma vedação adequada. Esticar a parte interna da máscara antes de colocá-la sobre o nariz e a boca pode ajudar a criar uma vedação mais adequada.

  • A posição tradicional das mãos é a preensão "C-E", posicionando os dedos médios, anulares e mínimos (o "E") sob a mandíbula e puxando a mandíbula para cima, enquanto os polegares e os indicadores criam um "C" pressionando a máscara.

  • Pode-se utilizar um método alternativo, muitas vezes preferido, (1, 2) no qual as eminências tenares mantêm a máscara aderida à face. Posicionar as eminências tenares nas bordas laterais da máscara. A seguir, posicionar a máscara na face e colocar os outros 4 dedos embaixo da mandíbula. Pressionar a máscara na face com as eminências tenares enquanto traciona a mandíbula para cima com os dedos. É possível fazer simultaneamente a inclinação da cabeça. Essa técnica é mais fácil de executar, permite o uso dos músculos mais fortes das mãos para manter uma vedação adequada, minimizando a fadiga, e permite que 4 dedos em vez de 3 levantem a mandíbula (realizando a elevação do queixo e a pressão na mandíbula).

  • Ao utilizar o posicionamento tradicional das mãos, fazer a manobra de inclinação da cabeça e elevação do queixo puxando a máscara e a face do paciente para cima com os dedos médios, anelares e mínimos enquanto mantém a máscara na face do paciente, para abrir ainda mais as vias respiratórias. Se suas mãos forem suficientemente grandes, colocar os dedos mínimos atrás do ramo mandibular para fazer a manobra de tração da mandíbula. Esse reposicionamento ajuda a direcionar o ar para a traqueia e não para o esôfago e evita a distensão gástrica.

  • Certificar-se de aplicar elevação apenas nas partes ósseas da mandíbula, porque a pressão nos tecidos moles do pescoço ou embaixo do queixo pode obstruir as vias respiratórias.

  • Quando for obtida vedação adequada, pedir para a outra pessoa conectar o ambu à máscara e iniciar a ventilação.

Técnica de ventilação por máscara com uma pessoa

  • Utilizando uma das mãos, segurar a máscara, com o polegar e o dedo indicador em volta da haste do conector da máscara. A maioria das pessoas utiliza a mão não dominante para segurar a máscara, mas as duas mãos podem ser utilizadas desde que seja possível obter uma boa vedação da máscara.

  • Para ter certeza de não colocar a mão ou a máscara nos olhos do paciente, primeiro posicionar a máscara sobre o nariz e a seguir abaixar o corpo da máscara sobre a boca do paciente. A ponte nasal, as 2 eminências malares e a crista alveolar mandibular devem estar cobertas pela máscara a fim de obter uma vedação adequada.

  • Agora posicionar os dedos médio, anelar e mínimo embaixo da mandíbula do paciente e tracionar para cima na direção da máscara. Essa manobra é semelhante à da técnica de inclinação da cabeça e elevação do queixo e abre ainda mais as vias respiratórias.

  • Mantendo essa tração para cima na mandíbula, pressionar a máscara para baixo na face para obter uma vedação estanque da máscara. Se a mão for suficientemente grande, posicionar o dedo mínimo atrás do ramo mandibular para aplicar uma manobra de tração da mandíbula a fim de abrir ainda mais as vias respiratórias.

  • Certificar-se de aplicar elevação apenas nas partes ósseas da mandíbula, porque a pressão nos tecidos moles do pescoço ou embaixo do queixo pode obstruir as vias respiratórias.

  • Quando for obtida vedação adequada, utilizar a outra mão para começar a ventilar.

Ventilação e oxigenação com ambu

  • Para cada inspiração, comprimir o ambu de maneira firme e suave a fim de prover um volume corrente de 6 a 7 mL/kg (ou cerca de 500 mL para um adulto de tamanho médio) por 1 segundo e então soltar a bolsa para permitir que ela infle novamente. Ao utilizar um ambu de 1.000 mL, comprimir apenas até a metade para obter o volume corrente correto.

  • Em caso de parada cardíaca, não exceder 8 a 10 inspirações por minuto (isto é, uma respiração completa a cada 6 a 7,5 segundos).

  • Observar se há elevação adequada do tórax durante a ventilação; na prática, é possível utilizar um volume corrente que seja suficiente para fazer com que o tórax se eleve.  

  • Monitorar o paciente, verificando se tem sons respiratórios, se possível, dosar o dióxido de carbono expirado e colocar oxímetro de pulso. (A oximetria de pulso pode não ser útil durante uma parada cardíaca devido à má perfusão periférica.) Avaliar se a ventilação adequada é estável e sustentável ou se exige muito esforço físico. Se disponível, utilizar forma da onda da capnografia que é um excelente indicador da vedação da máscara e de uma ventilação adequada.

  • Se a oxigenação estiver inadequada, apesar da forma correta e do uso de oxigênio a 100%, conectar uma válvula de pressão expiratória final positiva (PEEP) a fim de recrutar mais alvéolos para a troca gasosa. Configurar a válvula da PEEP inicialmente em 5 e aumentar conforme necessário para melhorar a saturação de oxigênio. Mas a PEEP deve ser evitada nos pacientes hipotensos.

  • Se a ventilação ou oxigenação ainda não estiver adequada, preparar para outras manobras respiratórias, como uma máscara supraglótica ou entubação endotraqueal.

Cuidados posteriores para ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu)

  • Continuar a ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu) até que uma via respiratória artificial definitiva seja obtida (como tubo endotraqueal) ou que a ventilação espontânea seja adequada (p. ex., após a administração de naloxona em caso de overdose de opioides).

  • Se o paciente ficar mais consciente ou ocorrer um retorno do reflexo faríngeo durante a ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu) com Guedel, remover a cânula orofaríngea e tratar conforme apropriado. A cânula nasofaríngea pode ser mais bem tolerada.

  • Se for necessário fazer entubação traqueal, ventilar utilizando FiO2 máximo através de uma máscara sem recirculação durante 3 a 5 minutos antes de inserir o tubo, se possível; se isso não for viável porque a entubação deve ser imediata, fazer pré-oxigenação do paciente administrando 5 a 8 respirações de capacidade vital utilizando uma válvula de PEEP.

Alertas e erros comuns para ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu)

  • Não colocar as mãos ou a máscara nos olhos do paciente. Fazer isso pode causar lesão ocular ou reação vagal.

Recomendações e sugestões para ventilação com bolsa-válvula-máscara (ambu)

  • Não se deve utilizar força excessiva nem insuflação rápida para ventilar; isso aumenta a distensão gástrica, comprometendo a ventilação.

  • A sonda nasogástrica deve ser inserida para ajudar a descomprimir o estômago quando possível.

Referências

  1. 1. Soleimanpour M, Rahmani F, Ala A, et al: Comparison of four techniques on facility of two-hand bag-valve-mask (BVM) ventilation: E-C, thenar eminence, thenar eminence (dominant hand)-E-C (non-dominant hand) and thenar eminence (non-dominant hand) - E-C (dominant hand). J Cardiovasc Thorac Res 8(4):147-151, 2016. doi:10.15171/jcvtr.2016.30

  2. 2. Otten D, Liao MM, Wolken R, et al: Comparison of bag-valve-mask hand-sealing techniques in a simulated model. Ann Emerg Med 63(1):6-12.e3, 2014. doi:10.1016/j.annemergmed.2013.07.014

Informações adicionais

O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. Jarvis JL, Gonzales J, Johns D, et al: Implementation of a clinical bundle to reduce out-of-hospital peri-intubation hypoxia. Ann Emerg Med 72(3):272-279.e1, 2018. doi.org/10.1016/j.annemergmed.2018.01.044.

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