Mede-se a pressão compartimental para auxiliar no diagnóstico da síndrome compartimental. A mensuração da pressão compartimental é um procedimento hospitalar que requer habilidade técnica considerável; tipicamente consulta-se um ortopedista ou cirurgião geral.
Pode-se medir a pressão compartimental nos 4 compartimentos da perna (anterior, posterior profundo, lateral e posterior superficial).
O sistema Stryker®, um instrumento comercialmente disponível, é utilizado aqui. Saber quais equipamentos estão disponíveis na sua instituição específica.
(Ver também Síndrome compartimental.)
Indicações à mensuração da pressão compartimental da perna
Suspeita de síndrome compartimental
Sugere-se a síndrome compartimental pelo agravamento da dor na parte inferior da perna, que é desproporcional à gravidade da lesão aparente e é exacerbada pelo alongamento passivo dos músculos do compartimento. À palpação, o compartimento pode estar edemaciado e tenso.
Contraindicações à mensuração da pressão compartimental da perna
Contraindicações absolutas
Nenhum
Contraindicações relativas
Infecção cutânea ou dos tecidos mais profundos no local previsto para a inserção da agulha: se possível, utilizar um local alternativo não infectado.
Diátese hemorrágica, que talvez precise ser corrigida antes da medição da pressão compartimental
Complicações da mensuração da pressão compartimental da perna
Medidas de pressão erroneamente altas ou baixas podem ser decorrentes de agulhas mal inseridas ou obstruídas, aparelhos defeituosos ou imprecisamente calibrados, agitação do paciente ou excesso de soro fisiológico de teste injetada no compartimento. Esses erros de medição podem levar a tratamento incorreto.
Pode ocorrer infecção, sangramento ou lesão tecidual resultante da inserção da agulha.
Equipamento para medir a pressão compartimental da perna
Aventais, luvas e campos estéreis
Gaze estéril
O sistema Stryker®, contendo agulha, tubo e transdutor
Solução antisséptica leve (p. ex., clorexidina a 2%)
Anestésico local (p. ex., lidocaína a 1 ou 2%)
agulha de calibre 25
Seringa de cerca de 3 mL ou mais para injeção de anestésico local
Curativos estéreis
Se sedação é necessária durante o procedimento, fármacos apropriados (p. ex., propofol, cetamina), oximetria de pulso e capnometria se disponível
Considerações adicionais para medir a pressão compartimental da perna
É necessária técnica estéril para evitar a contaminação microbiana dos tecidos compartimentais.
Manter um limiar baixo ao medir a pressão compartimental em pacientes de risco porque os compartimentos profundos podem não parecer tensos ou macroscopicamente edemaciados, a dor é inespecífica e, em pacientes obnubilados, os sintomas podem estar ausentes.
Deve-se fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento antes de a palidez ou falta de pulso se desenvolver.
Anatomia relevante para medir a pressão compartimental da perna
A perna tem 4 compartimentos:
Compartimento anterior: inclui os músculos tibial anterior, extensor longo do hálux e extensor longo dos dedos, nervo fibular profundo e artéria tibial anterior
Compartimento posterior profundo: inclui os músculos tibial posterior, flexor longo do hálux e flexor longo dos dedos, nervo tibial e as artérias tibial e fibular posterior
Compartimento lateral: inclui os músculos fibular longo, fibular curto e o nervo fibular superficial
Compartimento posterior superficial: inclui os músculos gastrocnêmio e sóleo
O compartimento anterior e o compartimento posterior profundo são os mais comumente afetados pela síndrome compartimental.
Posicionamento para medir a pressão compartimental da perna
Posicionar o paciente com o braço afetado no nível do coração e de tal modo que a agulha possa entrar na pele em um ângulo perpendicular ao compartimento que está sendo medido.
Descrição passo a passo para medir a pressão compartimental da perna
Preparar o equipamento
Abrir o sistema Stryker® e remover o conteúdo colocando-o em um campo estéril.
Inserir a agulha firmemente na haste cônica da câmara do diafragma. Remover a tampa da seringa pré-cheia e fixá-la na haste no lado oposto.
Abrir a tampa do monitor e colocar a câmara no monitor de pressão com a superfície preta apontada para baixo. Empurrar com cuidado até encaixar no lugar. Encaixar a tampa do monitor fechado.
Manter a agulha em um ângulo de 45° ascendente e pressionar o êmbolo para remover o ar do sistema. Não permitir que o soro fisiológico escorra pela agulha para dentro do transdutor.
Ligar o monitor e verificar a leitura numérica no monitor.
Calibrar o aparelho: segurar o aparelho no ângulo de inserção planejada. Pressionar o botão "zero" e assegurar que, após alguns segundos, o monitor mostre "00". O monitor deve exibir “00” antes de continuar. Para cada medição adicional, a unidade deve ser recalibrada para “00”
Medidas gerais para todos os compartimentos
Fazer exame neurovascular pré-procedimento da perna afetada.
Preparar a área em torno da pele com uma solução antisséptica, como a clorexidina. Cobrir a área com um campo estéril.
Utilizando agulha de calibre 25, aplicar o anestésico local criando uma pápula sobre o local de entrada da agulha. Evitar a injeção de anestésico nos tecidos mais profundos do músculo e da fáscia. Fazer isso pode elevar falsamente a pressão compartimental mensurada.
Segurar o monitor de pressão montado e calibrado perpendicular ao compartimento que está sendo medido e inserir a agulha o mais delicadamente possível através da pele até uma profundidade apropriada para o compartimento alvo.
Injetar lentamente 0,3 mL de soro fisiológico no compartimento.
Esperar até a janela de exibição mostrar que o equilíbrio foi alcançado e registrar a pressão resultante.
Para cada medição adicional, recalibrar a unidade para "00" e repetir o procedimento.
Encontrar um valor de pressão de mais de aproximadamente 30 mmHg ou dentro de cerca de 30 mmHg da pressão arterial diastólica corrobora o diagnóstico de síndrome compartimental e faz com que se considere a realização imediata de uma fasciotomia.
É possível que haja síndrome compartimental mesmo que a pressão compartimental não esteja elevada; se há a suspeita com base em achados clínicos, deve-se presumir o diagnóstico e medir a pressão compartimental em seguida.
Medidas específicas para o compartimento anterior
Colocar o paciente em decúbito dorsal.
Palpar a borda anterior da tíbia na junção entre os terços proximal e médio da perna.
Inserir a agulha 1 cm lateral à borda anterior da tíbia (a parte mais lateral da tíbia), perpendicularmente à pele.
Avançar a agulha até uma profundidade em que haja aumento da pressão ao pressionar com o dedo sobre o compartimento anterior imediatamente proximal ou distal ao local de inserção da agulha, ou à flexão plantar ou dorsal do tornozelo.
Medidas específicas para o compartimento posterior profundo
Posicionar o paciente em decúbito dorsal com a perna ligeiramente elevada se a condição clínica permitir.
Palpar a borda medial da tíbia na junção dos terços proximal e médio da perna.
Inserir a agulha imediatamente posterior à borda medial da tíbia.
Avançar a agulha perpendicularmente e direcioná-la à borda posterior da ulna até uma profundidade de 2 a 4 cm.
Confirmar a inserção adequada da agulha observando o aumento da pressão durante a extensão do artelho e eversão do tornozelo.
Medidas específicas para o compartimento lateral
Posicionar o paciente, geralmente em decúbito dorsal, na maca. Elevar ligeiramente o membro inferior.
Palpar a borda posterior da fíbula na junção dos terços proximal e médio da parte inferior da perna.
Inserir a agulha imediamente anterior à borda posterior da fíbula, no aspecto lateral da perna.
Avançar a agulha perpendicularmente à pele e direcioná-la à fíbula a uma profundidade de 1 a 1,5 cm. Se a agulha entrar em contato com o osso, afastá-la 0,5 cm.
Confirmar a inserção adequada da agulha observando um aumento na pressão ao pressionar o dedo sobre o compartimento lateral imediatamente inferior ou superior ao local de entrada da agulha e à inversão do pé e tornozelo.
Medidas específicas para o compartimento posterior superficial
Posicionar o paciente em decúbito ventral.
Visualizar uma linha transversal no nível da junção entre os terços proximal e médio da perna.
Inserir a agulha nesse nível, 3 a 5 cm em um dos lados da linha média anatômica da perna.
Avançar a agulha perpendicularmente à pele e direcioná-la ao centro da perna até uma profundidade de 2 a 4 cm.
Confirmar a inserção adequada da agulha observando um aumento na pressão ao pressionar o dedo sobre o compartimento lateral imediatamente inferior ou superior ao local de entrada da agulha e à inversão do pé e tornozelo.
Cuidados posteriores para mensuração da pressão compartimental da perna
Aplicar curativos estéreis a todos os locais de entrada da agulha.
Repetir o exame neurovascular da perna.
Alertas e erros comuns para medir a pressão compartimental da perna
O diagnóstico clínico da síndrome compartimental muitas vezes é difícil. Recomenda-se imediata consulta com um ortopedista ou cirurgião geral.
A presença de pulsos distais e enchimento capilar normais e, até mesmo, pressões compartimentais normais não excluem uma síndrome compartimental.
Medir as pressões de todos os compartimentos possivelmente afetados no membro envolvido.
Recomendações e sugestões para medir a pressão compartimental da perna
Para maximizar a precisão, medir a pressão nos locais de trauma ou tensão máxima palpável.