Vários gases fisiológicos (p. ex., oxigênio, nitrogênio, dióxido de carbono) e não fisiológicos (p. ex., monóxido de carbono) podem causar sintomas durante o mergulho.
(Ver também Visão geral das lesões durante mergulho.)
Toxicidade por oxigênio
A toxicidade por oxigênio costuma ocorrer quando a pressão parcial de oxigênio excede 1,3 a 1,4 atmosferas, o equivalente a cerca de 57 m (187 pés) de profundidade quando o ar é respirado e mais raso quando são utilizadas misturas respiratórias enriquecidas com oxigênio. Os sintomas incluem parestesias, convulsões, vertigem, náuseas, vômitos e constrição da visão (túnel). Cerca de 10% dos pacientes apresentam convulsões generalizadas ou síncope, que normalmente resultam em afogamento.
Narcose por nitrogênio
Quando respira-se ar comprimido em profundidades de > 30 m (> 100 pés), a pressão parcial elevada do nitrogênio pode exercer efeito anestésico similar ao do óxido nitroso. Narcose por nitrogênio (“euforia da profundidade”) causa sinais e sintomas similares aos de intoxicação por álcool (p. ex., desempenho intelectual e neuromuscular deficiente, mudanças de comportamento e personalidade). Deficiência de julgamento pode levar ao afogamento. Alucinações e perda de consciência podem ocorrer em profundidades > 91 m (> 300 pés).
Como os mergulhadores se recuperam rapidamente durante a subida, o diagnóstico baseia-se, muitas vezes, na história. O tratamento implica na subida imediata, mas controlada. Pode-se prevenir a narcose por nitrogênio utilizando hélio (em vez de nitrogênio, como é no ar comprimido padrão) para diluir o oxigênio em mergulhos profundos porque o hélio não possui as propriedades narcóticas do nitrogênio. Mas o uso da forma pura com misturas de hélio/oxigênio em mergulhos profundos (> 180 m [> 600 pés]) aumenta o risco da síndrome neurológica de alta pressão.
Intoxicação por dióxido de carbono
A toxicidade de dióxido de carbono pode ser causada por qualquer um dos seguintes:
Esforço respiratório inadequado (hipoventilação) decorrente da alta resistência respiratória (p. ex., por mau funcionamento do regulador, roupa de mergulho apertada)
Cansaço
Mergulho profundo
Contaminação do suprimento de ar por gases exalados (como ocorre na falha do purificador de dióxido de carbono no suprimento de ar recirculante)
A hipoventilação pode aumentar os níveis de dióxido de carbono no sangue e causar falta de fôlego e sedação. Intoxicação grave por dióxido de carbono pode causar náuseas, vômitos, tontura, cefaleia, respiração rápida, eritema, confusão, convulsões e perda de consciência.
Suspeita-se de Intoxicação leve por dióxido de carbono se os mergulhadores têm cefaleias constantes relacionadas a mergulhos ou baixa velocidade de uso do ar.
Intoxicação por dióxido de carbono normalmente desaparece durante a subida; assim, geralmente gasometria arterial (GA) após o mergulho não detecta nenhum aumento nos níveis de dióxido de carbono. O tratamento consiste em subida gradual e terminação do exercício de mergulho ou correção da precipitação da causa.
Intoxicação por monóxido de carbono
O monóxido de carbono pode entrar no suprimento de ar do mergulhador se a válvula do compressor de ar inspirado for colocada muito próxima ao exaustor do equipamento ou se o óleo lubrificante em um mau funcionamento do compressor tornar-se quente o suficiente para queimar parcialmente (flashing), produzindo monóxido de carbono.
Os sintomas incluem náuseas, cefaleia, fraqueza, mal-estar e mudanças mentais. Casos graves de intoxicação por monóxido de carbono podem causar convulsões, síncope ou coma.
O diagnóstico é pela detecção de um nível elevado de carboxi-hemoglobina no sangue; as leituras da oximetria do pulso, são frequentemente normais e não diagnósticas, pois os oxímetros de pulso não conseguem distinguir entre oxi-hemoglobina e carboxi-hemoglobina. Entretanto, a oximetria de pulso do monóxido de carbono (oximetria CO) pode detectar carboxiemoglobina elevada. Também pode-se testar o suprimento de ar do mergulhador à procura de monóxido de carbono.
O tratamento é com alto fluxo de oxigênio a 100%, mais bem aplicado via máscara em recirculação, que diminui a meia-vida da carboxi-hemoglobina de 4 a 6 horas na câmara de ar para 30 a 150 minutos. Para casos graves, nos quais existem manifestações neurológicas ou onde a carboxiemoglobina é ≥ 25%, deve-se considerar oxigenoterapia hiperbárica. Os níveis de carboxiemoglobina caem rapidamente na câmara hiperbárica (meia-vida de 15 a 30 minutos), e a maioria dos estudos mostra que a oxigenioterapia hiperbárica reduz as sequelas persistentes. Embora a elevação da carboxiemoglobina confirme o diagnóstico, a hipóxia tecidual aumenta pela ligação do monóxido de carbono a outras hemoproteínas, como mioglobina e citocromo a,a3. Assim, o nível de carboxiemoglobina não se correlaciona com a gravidade clínica e não deve ser utilizado como o alvo do tratamento.
Síndrome neurológica de pressão alta
Uma síndrome pouco entendida das anormalidades cerebrais e neuromusculares pode se desenvolver a ≥ 180 m (≥ 600 pés), especialmente quando o mergulhador é comprimido rapidamente enquanto respira misturas de hélio/oxigênio. Os sintomas incluem náuseas, vômito, pequenos tremores, falta de coordenação, tontura, fadiga, sonolência, tiques mioclônicos, cólicas estomacais e diminuição nos desempenhos intelectual e psicomotor.
O diagnóstico é clínico. Normalmente, realiza-se a prevenção desacelerando a taxa de compressão e/ou adicionando um pequena quantidade de gás narcótico (p. ex., nitrogênio a 5%) à mistura respiratória.
Referências gerais
Hampson NB: Carbon monoxide poisoning while scuba diving: A rare event? Undersea Hyperb Med 47(3):487-490, 2020. doi: 10.22462/03.07.2020.10
Lippmann J, Millar I: Severe carbon monoxide poisonings in scuba divers: Asia-Pacific cases and causation. Undersea Hyperb Med 49(3):341-353, 2022. PMID 36001567
Informações adicionais
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