A febre hemorrágica da dengue é uma variante da apresentação da infecção por dengue que ocorre principalmente nas crianças com < 10 anos de idade que vivem onde a doença é endêmica. A febre hemorrágica da dengue, que também foi chamada febre hemorrágica das Filipinas, da Tailândia ou do Sudeste Asiático, frequentemente requer exposição prévia ao vírus da dengue.
A febre hemorrágica da dengue é uma doença imunopatológica; complexos imunes dos anticorpos do vírus da dengue desencadeiam a liberação dos mediadores vasoativos pelos macrófagos. Os mediadores aumentam a permeabilidade vascular, provocando extravasamento vascular, manifestações hemorrágicas, hemoconcentração e derrames serosos, que podem levar ao colapso circulatório (isto é, síndrome de choque da dengue).
Sinais e sintomas da febre hemorrágica da dengue
A febre hemorrágica da dengue frequentemente começa com febre e cefaleia de início abrupto, sendo inicialmente indiferenciável da dengue clássica. Os sinais de alerta que preveem possível progressão para dengue grave são
Sensibilidade e dor abdominal intensa
Vômitos persistentes
Hematêmese
Epistaxe ou sangramento das gengivas
Fezes escuras (melena)
Edema
Letargia, confusão ou agitação
Hepatomegalia, derrame pleural ou ascite
Alteração acentuada na temperatura (de febre à hipotermia)
O colapso circulatório e a falência de múltiplos órgãos, chamada síndrome de choque da dengue, pode se desenvolver rapidamente em 2 a 6 dias após o início.
As tendências hemorrágicas se manifestam da seguinte forma:
Normalmente, como púrpura, petéquias, equimoses ou em locais de injeção
Às vezes, como hematêmese, melena ou epistaxe
Ocasionalmente, como hemorragia subaracnoidea
Broncopneumonia com ou sem derrames pleurais bilaterais é comum. Miocardite pode ocorrer.
A taxa de mortalidade normalmente é < 1% nos centros experientes, mas, por outro lado, pode chegar a 30%.
Diagnóstico da febre hemorrágica da dengue
Critérios clínicos e laboratoriais
Suspeita-se da febre hemorrágica da dengue em crianças com os critérios clínicos definidos pela OMS para o diagnóstico:
Febre repentina que permanece alta por 2 a 7 dias
Manifestações hemorrágicas
Hepatomegalia
As manifestações hemorrágicas incluem pelo menos uma prova do laço positiva e petéquias, púrpura, equimoses, sangramento gengival, hematêmese, ou melena. A prova do laço é realizada aplicando-se pressão (média entre a pressão sistólica e a diastólica) no membro superior do paciente, por 15 minutos. O número de petéquias que se forma dentro de um círculo de 2,5 cm de diâmetro é contado; o aparecimento de > 20 petéquias sugere fragilidade capilar.
Devem ser obtidos hemograma completo, testes de coagulação, análise de urina, testes hepáticos e testes de sorologia para dengue. Anormalidades de coagulação incluem
Trombocitopenia (≤ 100.000 plaquetas/mcL [≤ 100 x 109/L])
Tempo de protrombina (TP) prolongado
Tempo de tromboplastina parcial (TTP) ativada prolongado
Diminuição de fibrinogênio
Aumento da quantidade de produtos de degradação da fibrina
Pode haver hipoproteinúria, proteinúria leve e aumentos nos níveis de aspartato aminotransferase (AST).
Pode-se realizar o diagnóstico sorológico utilizando o ensaio imunoenzimático para captura de IgM (MAC-ELISA). Combinado com o teste de amplificação do RNA do vírus da dengue, pode fornecer um diagnóstico nos primeiros 1 a 7 dias da doença. O teste de neutralização por redução de placas (PRNT) é específico e sensível. Títulos nas amostras de soro das fases aguda e convalescente podem estabelecer de forma confiável a infecção pelo vírus da dengue e podem indicar o tipo de vírus específico envolvido. O PRNT requer vírus vivos da dengue para o teste e é trabalhoso e caro. Muitos laboratórios não conseguem realizar o PRNT.
Presume-se que pacientes apresentando os critérios clínicos definidos pela OMS, mais trombocitopenia (≤ 100.000/mcL [≤ 100 x 109/L]) ou hemoconcentração (hematócrito Hct] aumentado ≥ 20%), tenham a doença (ver Centers for Disease Control and Prevention's Dengue Virus: Clinical Guidance do CDC).
Tratamento da febre hemorrágica da dengue
Cuidados de suporte
Pacientes com febre hemorrágica da dengue precisam de tratamento intensivo para manter a euvolemia. Devem ser evitadas hipovolemia (que pode produzir choque) e hiperhidratação (que pode produzir síndrome do desconforto respiratório agudo). Urina e grau de hemoconcentração podem ser utilizados para monitorar o volume intravascular.
Nenhum antiviral demonstrou melhorar o desfecho.
Pontos-chave
A febre hemorrágica da dengue ocorre principalmente em crianças < 10 anos que vivem em áreas onde a dengue é endêmica e exige infecção anterior pelo vírus da dengue.
A Febre hemorrágica da dengue pode inicialmente lembrar a dengue, mas alguns resultados (p. ex., sensibilidade e dor intensa abdominais, vômitos persistentes, hematêmese, epistaxe, melena) indicam uma possível progressão para dengue grave.
O colapso circulatório e a falência de múltiplos órgãos, chamada síndrome de choque da dengue, pode se desenvolver rapidamente em 2 a 6 dias após o início.
O diagnóstico baseia-se em critérios clínicos e laboratoriais específicos.
Manter a euvolemia é crucial.
Informações adicionais
O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.
Centers for Disease Control and Prevention: Dengue Virus: For Healthcare Providers: Information on prevention, clinical presentation, diagnosis, and treatment, as well as how to distinguish COVID-19 from dengue