Mansonelose

PorChelsea Marie, PhD, University of Virginia;
William A. Petri, Jr, MD, PhD, University of Virginia School of Medicine
Revisado/Corrigido: set. 2022
Visão Educação para o paciente

    Mansonelose refere-se a doenças causadas pelos nematódeos filários Mansonella perstans, M. ozzardi e M. streptocerca. A transmissão ocorre por picadas de mosquitos ou borrachudos. As infecções geralmente são assintomáticas, mas podem ocorrer sintomas. Confirma-se o diagnóstico de M. perstans e M. ozzardi pela identificação de microfilárias em esfregaços de sangue; nenhuma das espécies apresenta periodicidade significativa, de modo que o sangue pode ser coletado a qualquer momento. O diagnóstico de M. streptocerca baseia-se na identificação de microfilárias em fragmentos de pele ou biópsias cutâneas. O tratamento depende da espécie de Mansonella infectante.

    (Ver também Abordagem a infecções parasitárias e Visão geral das infecções por nematódeo filário.)

    Três espécies de Mansonella causam a maioria das doenças humanas. Assim como ocorre com outras doenças filariais, seu ciclo de vida é complexo (ver DPDx - Laboratory Identification of Parasites of Public Health Concern: Mansonellosis).

    Mansonella perstans

    Mansonella perstans é transmitida por picadas de mosquitos (Culicoides) na África subsaariana e nas Américas, do Panamá à Argentina. Estima-se que mais de 100 milhões de pessoas estejam infectadas em todo o mundo. Os vermes adultos residem nas cavidades pleural, pericárdica e peritoneal, bem como no retroperitônio e no mesentério. Microfilárias não embainhadas são encontradas na corrente sanguínea. Os mosquitos os adquirem quando sugam o sangue de um ser humano infectado.

    A maioria das infecções é assintomática ou leve. A migração de vermes adultos pode causar edemas subcutâneos transitórios semelhantes aos do Loa loa (edemas de Calabar), inflamação do pericárdio ou da pleura, nódulos conjuntivais, danos na retina e inflamação periocular. Sintomas inespecíficos incluindo prurido, urticária, artralgias e mal-estar. Manifestações neuropsiquiátricas, meningoencefalite e hepatite foram atribuídas a M. perstans em raras ocasiões.

    Faz-se o diagnóstico de M. perstans identificando as microfilárias não embainhadas em um esfregaço de sangue. Pode-se identificar as microfilárias no sangue tanto durante o dia como à noite. Uma eosinofilia está frequentemente presente.

    M. perstans é relativamente resistente a medicamentos, como dietilcarbamazina, utilizados para tratar outras doenças filárias. Visar as bactérias Wolbachia endossimbióticas em M. perstans adultos com doxiciclina (200 mg por dia, durante 4 a 6 semanas), que se presume que interrompa a reprodução de vermes adultos, pode ser curativa. Demonstrou-se Wolbachia em M. perstans do Mali, Camarões, Gana e Gabão. Há relatos divergentes sobre a presença de Wolbachia em Uganda, possivelmente devido a restrições metodológicas ou pela presença de múltiplas cepas de M. perstans. A doxiciclina demonstrou ser eficaz no Mali e em Gana, mas a utilidade deste agente no tratamento das infecções em regiões em que Wolbachia estão ausentes não foi sistematicamente estudada. Nos casos em que a doxiciclina é ineficaz, a terapia combinada de dietilcarbamazina com mebendazol por 3 semanas melhorou a atividade em relação à monoterapia.

    Mansonella ozzardi

    Mansonella ozzardi é endêmica na América Central e do Sul e em algumas ilhas do Caribe. Os seres humanos são o principal reservatório da infecção. M. ozzardi é transmitida por picadas de mosquitos (Culicoides) e borrachudos (Simulium amazonicum). O ciclo de vida é semelhante ao do M. perstans, exceto que os vermes adultos residem no sistema linfático e também nas cavidades torácica e peritoneal. As microfilárias estão presentes tanto no sangue como na pele.  

    A maioria dos indivíduos com infecção por M. ozzardi é assintomática, mas algumas apresentam exantema, linfadenopatia, artralgias, febre, cefaleia ou sintomas pulmonares. A ceratite induzida por microfilaremia do M. ozzardi foi relatada na região amazônica do Brasil.

    Confirma-se o diagnóstico de M. ozzardi pela identificação de microfilárias em amostras de sangue ou pele. O sangue pode ser coletado a qualquer momento. Eosinofilia é comum. Testes sorológicos também podem ser úteis na identificação de infecção, mas não são específicos.

    O tratamento é com ivermectina (200 mcg/kg por via oral, em uma dose única). Antes do tratamento com ivermectina, deve-se avaliar nos pacientes co-infecção por Loa loa, outro parasita filário, se estiveram em regiões da África Central onde ambos os parasitas são transmitidos porque a ivermectina pode causar reações graves em pacientes coinfectados por infecções graves por Loa loa. Wolbachia endossimbióticos estão presentes no M. ozzardi, mas a eficácia da doxiciclina no tratamento não foi avaliada.

    Mansonella streptocerca

    M. streptocerca é transmitida nas florestas tropicais da África Ocidental e Central e Uganda. Desconhece-se a prevalência do M. streptocerca. Primatas não humanos são às vezes infectados, mas não são os principais reservatórios da infecção. O ciclo de vida do M. streptocerca é semelhante ao do M. perstans, exceto que os vermes adultos residem na derme da parte superior do tronco e ombro. Microfilarias são encontradas na pele. A maioria das pessoas com M. streptocerca é assintomática. Pode-se observar espessamento da derme, máculas hipopigmentadas e linfadenopatia axilar ou inguinal bilateral. Ao contrário de O. volvulus, M. streptocerca adultos não formam nódulos subcutâneos.

    Faz-se o diagnóstico de M. streptocerca pela identificação de microfilárias em fragmentos ou biópsias cutâneos. Eosinofilia é comum. A sorologia também pode ser útil na identificação de infecção filarial, mas não é específica.

    Administra-se dietilcarbamazina (DEC) 2 mg/kg 3 vezes ao dia por 12 dias para tratar M. streptocerca. DEC mata tanto microfilárias como vermes adultos. Entretanto, pode exacerbar os sintomas cutâneos e sistêmicos em razão da liberação de antígenos das microfilárias que estão morrendo. Não se deve administrar DEC a pacientes com O. volvulus ou infecções maciças por Loa loa devido ao potencial de efeitos adversos graves.

    A ivermectina (150 mcg/kg em uma dose) pode reduzir as cargas microfilariais de M. streptocerca, mas seu impacto sobre o curso da infecção é incerto. Antes do tratamento com ivermectina, deve-se avaliar nos pacientes co-infecção por Loa loa, outro parasita filário, se estiveram em regiões da África Central onde ambos os parasitas são transmitidos porque a ivermectina pode causar reações graves em pacientes com coinfecção intensa por Loa loa. Não se sabe se M. streptocerca hospeda Wolbachia nem se a doxiciclina influencia no tratamento.

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