Filariose linfática brancoftiana e brugiana

PorChelsea Marie, PhD, University of Virginia;
William A. Petri, Jr, MD, PhD, University of Virginia School of Medicine
Revisado/Corrigido: set. 2022
Visão Educação para o paciente

Filariose linfática é infecção por qualquer uma das 3 espécies de Filarioidea. Os sintomas agudos incluem febre, linfadenite, linfangite, epididimite e funiculite (inflamação do cordão espermático). Sintomas crônicos incluem abscessos, hiperqueratose, poliartrite, hidrocele, linfedema e elefantíase. Eosinofilia pulmonar tropical com broncospasmo, febre e infiltrado pulmonar é outra manifestação da infecção. O diagnóstico é pela detecção de microfilárias no sangue ou amostras de biópsia de tecido linfático, visualização por ultrassom dos vermes adultos nos vasos linfáticos ou sorologia. O tratamento é realizado com dietilcarbamazina; antibióticos são utilizados em complicações como celulite bacteriana.

(Ver também Abordagem a infecções parasitárias e Visão geral das infecções por nematódeo filário.)

A filiariase bancroftiana está presente em áreas tropicais e subtropicais da África, da Ásia, no Pacífico e nas Américas, inclusive no Haiti. A filariose causada por Brugia é endêmica no Sul e no Sudeste Asiático.

Cerca de 51 milhões de pessoas foram infectadas em 2018 e 40 milhões experimentaram desfiguração pela doença. Em 2000, a Organização Mundial da Saúde lançou o Programa Global para Eliminar a Filariose Linfática. Como resultado, houve um progresso substancial na interrupção da disseminação da infecção por meio de tratamento anual em larga escala de pessoas elegíveis em áreas em que a infecção estava presente. Em 2020, mais de 860 milhões de pessoas viviam em regiões em que havia infecção suficiente para exigir esse tratamento anual.

Filariose linfática é causada por Wuchereria bancrofti (cerca de 90% dos casos), Brugia malayi ou B. timori. A transmissão ocorre por mosquitos. Larvas infectantes do mosquito migram para as vias linfáticas, nas quais se desenvolvem até vermes adultos no período de 6 a 12 meses. As fêmeas medem de 80 a 100 mm e os machos, cerca de 40 mm. Fêmeas adultas grávidas produzem microfilárias, que circulam no sangue.

Sinais e sintomas

A infecção pode resultar em microfilaremia sem manifestações clínicas evidentes. Os sinais e sintomas são causados principalmente por vermes adultos. A microfilaremia desaparece de forma gradual depois de a pessoa deixar a área endêmica.

A filariose inflamatória aguda consiste em 4 a 7 dias de episódios (na maioria das vezes recorrentes) de febre e inflamação de linfonodos com linfangite, denominando-se adenolinfangite aguda ou epididimite aguda e inflamação de cordão espermático; infecções bacterianas secundárias são comuns. O envolvimento localizado de um membro afetado pode resultar em abscesso, que drena externamente e deixa uma cicatriz. Episódios de adenolinfangite normalmente precedem a doença crônica por 2 décadas. A filariose aguda é mais grave em imigrantes não expostos anteriormente do que em residentes nativos.

A filariose crônica desenvolve-se insidiosamente em muitos anos. Na maioria dos pacientes, ocorre dilatação linfática assintomática, mas respostas inflamatórias crônicas aos vermes adultos e infecções bacterianas secundárias podem resultar em linfedema crônico da área afetada do corpo. Maior suscetibilidade local a infecções bacterianas e fúngicas contribui ainda mais para seu desenvolvimento. Linfedema depressivo crônico dos membros inferiores pode progredir para elefantíase (obstrução linfática crônica). W. bancrofti podem causar hidrocele e elefantíase escrotal. Outras formas de doença filarioide crônica são causadas pelo rompimento dos vasos linfáticos ou drenagem anômala das linfas, provocando quilúrias e quiloceles.

Os sinais extralinfáticos são hematúria microscópica crônica, proteinúria e poliartrite leve, presume-se que todas resultem da deposição de imunocomplexos.

Eosinofilia pulmonar tropical é uma manifestação incomum com broncospasmo recorrente, infiltrado pulmonar transitório, febre de baixo grau e eosinofilia intensa. É mais provável que seja decorrente de reações de hipersensibilidade a microfilárias. O envolvimento pulmonar crônico pode levar à fibrose pulmonar.

Diagnóstico

  • Exame microscópico de amostras de sangue ou biópsia de tecido linfático

  • Teste de antígeno para W. bancrofti (disponível internacionalmente, mas não nos Estados Unidos)

  • Testes de anticorpo

A detecção microscópica de microfilárias no sangue estabelece o diagnóstico da filariose linfática. Concentrados de sangue filtrados ou centrifugados são mais sensíveis do que gota espessa. Deve-se obter amostras de sangue quando ocorre o pico de microfilaremia — à noite na maioria das áreas endêmicas, mas durante o dia em muitas ilhas do Pacífico. Vermes adultos viáveis podem ser visualizados em linfáticos dilatados por meio de ultrassonografia; seu movimento é chamado de dança filarioide.

Há vários testes sanguíneos disponíveis:

  • Detecção de anticorpos: testes de ensaio imunoenzimático para IgG1 e IgG4 antifilarioide

  • Detecção de antígeno: teste rápido imunocromatográfico de para antígenos W. bancrofti

Pacientes com infecção ativa por filária tipicamente têm altos níveis de IgG4 antifilarioide no sangue. Mas há reatividade cruzada antigênica significativa entre as filárias e outros helmintos, e uma sorologia positiva não diferencia entre infecção filarioide atual e passada. Internacionalmente, utiliza-se teste diagnóstico rápido para detecção do antígeno da W. bancrofti em programas de eliminação da filariose, mas esse teste não está licenciado nos Estados Unidos. Ensaios baseados em reação em cadeia de polimerase (PCR [polymerase chain reaction]) por W. bancrofti e B. malayi estão disponíveis para pesquisa em laboratórios de pesquisa. Pode-se identificar adultos das duas espécies em biópsias do tecido linfático.

Tratamento

  • Dietilcarbamazina

A dietilcarbamazina (DEC) mata as microfilárias e uma proporção variável de vermes adultos. Nos Estados Unidos, a dietilcarbamazina está disponível nos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) após a confirmação laboratorial da filariose.

Dicas e conselhos

  • Antes do tratamento com DEC, avaliar nos pacientes coinfecção por Loa loa ou Onchocerca volvulus porque a DEC pode causar reações graves nos pacientes com essas infecções.

Tratamento da filariose linfática aguda

Dietilcarbamazina costuma ser administrada na dose de 2 mg/kg por via oral 3 vezes ao dia durante 12 dias; a alternativa é 6 mg/kg por via oral em dose única. Em geral, o esquema de 1 dose única parece ser tão eficaz quanto o esquema de 12 dias.

Os efeitos adversos da dietilcarbamazina são geralmente limitados e dependem do número de microfilárias no sangue. Os mais comuns são tontura, náuseas, febre, cefaleia e dores musculares ou articulares, que considera-se estarem relacionados à liberação de antígenos filarioide.

Antes do tratamento com DEC, deve-se avaliar nos pacientes coinfecção por Loa loa (loíase) ou Onchocerca volvulus (oncocercíase) porque a dietilcarbamazina pode causar reações graves nos pacientes com essas infecções. Pode-se administrar uma dose de albendazol 400 mg por via oral mais ivermectina (200 mcg/kg por via oral) em regiões em que a oncocercose é coendêmica, mas apenas ivermectina não mata os vermes adultos responsáveis pela filariose linfática. A DEC não deve ser utilizada em pacientes com alta circulação de níveis microfilariais de Loa loa devido ao risco de efeitos colaterais potencialmente fatais, incluindo encefalopatia.

Algumas combinações de fármaco e esquemas foram utilizadas em programas de tratamento em massa.

Além disso, doxiciclina foi administrada a longo prazo (p. ex., 100 mg por via oral duas vezes ao dia por 4 a 6 semanas). Doxiciclina elimina as bactérias endossimbiontes Wolbachia dentro da filária, levando os vermes filários adultos à morte. Pode-se administrá-la com DEC ou usá-la isoladamente.

Em geral, crises de adenolinfangite aguda desaparecem de forma espontânea, embora possam ser necessários antibióticos para controlar infecções bacterianas secundárias.

Tratamento do linfedema crônico

Linfedema crônico requer um cuidado meticuloso com a pele, inclusive uso de antibióticos sistêmicos para tratar infecções bacterianas secundárias; estes antibióticos podem reduzir ou impedir a progressão da elefantíase.

Se a terapia com dietilcarbamazina previne ou diminui o linfedema crônico continua controverso.

Medidas conservadoras, como bandagem elástica no membro comprometido, reduzem o edema.

Descompressão cirúrgica, utilizando derivações nodal-venosos para melhorar a drenagem linfática, oferece algum benefício a longo prazo em casos extremos de elefantíase. Também é possível tratar hidroceles maciças cirurgicamente, mas a recorrência é comum.

Tratamento da eosinofilia pulmonar tropical

A eosinofilia pulmonar tropical responde à DEC, 2 mg/kg por via oral 3 vezes ao dia, durante 14 a 21 dias, mas recidivas ocorrem em até 25% dos casos e requerem cursos adicionais da terapia.

Prevenção

Evitar picadas de mosquito em áreas endêmicas é a melhor proteção para viajantes [p. ex., utilizando dietiltoluamida (DEET) na pele exposta, roupas impregnadas de permetrina e telas de proteção para camas].

A Organização Mundial da Saúde lançou o Global Program to Eliminate Lymphatic Filariasis em 2000 para mapear áreas endêmicas e tratar populações inteiras em risco com os seguintes esquemas de administração de fármacos: albendazol (400 mg) isolado duas vezes por ano para áreas co-endêmicas com loíase, ivermectina (200 mcg/kg) e albendazol (400 mg) anualmente em áreas com oncocercose, e dietilcarbamazina (DEC) (6 mg/kg) e albendazol (400 mg) mais ivermectina (200 mcg/kg) em alguns ambientes, anualmente em áreas sem oncocercose ou loíase. Esses esquemas diminuem a microfilaremia e, assim, reduzem a transmissão do parasita pelos mosquitos. O sal de mesa com DEC como um aditivo também foi utilizado em algumas áreas. A transmissão foi interrompida depois de 4 a 6 anos de tratamento anual.

Pontos-chave

  • A filariose linfática é transmitida por mosquitos; larvas infectantes migram para os vasos linfáticos, onde se transformam em vermes adultos.

  • Vermes adultos dentro dos vasos linfáticos podem causar inflamação resultando em adenolinfangite ou epididimite aguda ou obstrução linfática crônica que, em alguns pacientes, leva à elefantíase ou hidrocele.

  • Diagnosticar com base na detecção microscópica de microfilárias em concentrados filtrados ou centrifugados do sangue que é coletado no momento do dia quanto a microfilaremia alcança o pico (varia dependendo da espécie).

  • Testes de antígeno, anticorpos e DNA do parasita são alternativas ao diagnóstico por microscopia.

  • Tratar com dietilcarbamazina após exclusão da coinfecção por Loa loa e Onchocerca volvulus.

  • The Global Program to Eliminate Lymphatic Filariasis reduziu a transmissão em muitas regiões endêmicas.

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