A otite média serosa é uma derrame na orelha média resultante da resolução incompleta de OMA ou obstrução da tuba auditiva, sem infecção. Os sintomas incluem perda auditiva e sensação de plenitude ou pressão na orelha. O diagnóstico baseia-se na aparência da membrana timpânica e, às vezes, na timpanometria. A maioria dos casos se resolve em 2 a 3 semanas. Se não houver nenhuma melhora em 1 a 3 meses, indica-se alguma forma de miringotomia, geralmente com a inserção de um tubo de ventilação. Antibióticos e descongestionantes não são eficazes.
Normalmente, a orelha média é ventilada 3 a 4 vezes/min através da abertura tubária durante a deglutição e pelo oxigênio absorvido pelo sangue nos vasos da mucosa da orelha média. Se a permeabilidade da tuba auditiva estiver prejudicada, uma pressão negativa relativa se desenvolverá na orelha média, ocasionalmente acarretando acúmulo de líquido. Esse líquido pode causar perda auditiva.
A otite média serosa é uma sequela comum da otite média aguda ou de uma infecção respiratória superior em crianças (muitas vezes identificada na avaliação de rotina do ouvido) e pode persistir por semanas a meses. A obstrução da tuba auditiva também pode ser secundária a:
Processos inflamatórios na nasofaringe
Alergias
Adenoides hipertróficas
Outras agregações linfoides obstrutivas no toro tubário e no recesso faríngeo.
Tumores benignos ou malignos
A secreção pode ser estéril ou (mais comumente) conter bactérias patogênicas, por vezes, como um biofilme, embora a inflamação não seja observada. Em casos raros, o extravasamento espontâneo de líquido cefalorraquidiano (LCR) decorrente de erosão na base lateral do crânio pode se manifestar com otite média com derrame.
Sinais e sintomas da otite média serosa
Os pacientes podem relatar sintomas, mas alguns (ou seus familiares) notam hipoacusia. Os pacientes podem experimentar sensação de pressão, plenitude ou estalos na orelha com a deglutição. Otalgia é rara.
Várias alterações possíveis na membrana timpânica incluem cor âmbar ou cinza, deslocamento do reflexo luminoso, retração leve a grave. Durante a insuflação de ar, a membrana timpânica pode estar imóvel. Nível líquido ou bolhas de ar podem ser vistos através da membrana timpânica.
TONY WRIGHT, INSTITUTE OF LARYNGOLOGY AND OTOLOGY/SCIENCE PHOTO LIBRARY
Diagnóstico da otite média serosa
Exame com otoscopia pneumática
Timpanometria
Exame nasofaríngeo
O diagnóstico da otite média serosa é clínico, com otoscopia pneumática. Por otoscopia pneumática, na qual um insuflador é acoplado no otoscópio para mover a membrana timpânica; secreção na orelha média, perfuração ou timpanosclerose inibem esse movimento. A timpanometria pode ser feita para confirmar a derrame na orelha média (mostrando falta de mobilidade da membrana timpânica).
Se um derrame persistir por > 8 semanas, adultos e adolescentes devem ser submetidos ao exame de nasofaringe para excluir tumores malignos ou benignos. Deve-se suspeitar de neoplasia nasofaríngea, particularmente em pacientes com otite média serosa unilateral. Se houver suspeita de neoplasia, devem ser realizados exames de imagem.
Tratamento da otite média serosa
Observação
Se não resolver, miringotomia com a inserção do tubo de ventilação
Se recorrentes na infância, considerar adenoidectomia
Para a maioria dos pacientes, a conduta expectante é tudo o que é necessário. Antibióticos e descongestionantes não são úteis. Se as alergias estão claramente envolvidas, anti-histamínicos e corticoides nasais podem ser úteis.
Se não houver melhora em 1 a 3 meses, a miringotomia pode ser realizada, promovendo a aspiração da secreção e inserção de um tubo de ventilação, que permite a ventilação da orelha média e temporariamente melhora a função tubária, independentemente da causa. Pode-se inserir tubo de ventilação (timpanostomia) para as perdas auditivas condutivas persistentes secundárias a secreção contínua na orelha média. Os tubos de ventilação (timpanostomia) podem ajudar a prevenir a recidiva da otite média aguda e da otite média serosa.
Às vezes, a orelha média é temporariamente ventilada com a manobra de Valsalva ou a de Politzer. Para realizar a manobra de Valsalva, os pacientes mantêm sua boca fechada e tentam forçar um sopro de ar para fora, através de suas narinas comprimidas pelo polegar e indicador (causando estalido nos ouvidos). Para realizar a manobra de Politzer, o médico introduz ar com uma seringa especial (inflaotalgia médio) em uma das narinas do paciente e bloqueia a outra enquanto o paciente deglute. Isto leva o ar à tuba auditiva e à orelha média. Nenhum destes procedimentos deve ser realizado se o paciente apresentar quadro gripal ou rinorreia. Os pacientes podem ser instruídos a prender delicadamente as narinas e deglutir (chamada autoinsuflação). Essa manobra pode ser repetida várias vezes ao longo do dia para arejar a orelha média.
A otite média serosa persistente ou recorrente pode exigir correção de condições subjacentes na nasofaringe. Em crianças, particularmente meninos adolescentes, um angiofibroma nasofaríngeo deve ser descartado; em adultos, carcinoma nasofaríngeo deve ser descartado. As crianças podem beneficiar-se da adenoidectomia, incluindo a remoção da massa adenoide central, bem como dos agregados linfoides no toro da tuba e na fosseta de Rosenmüller. Os antibióticos devem ser dados nos casos de rinite, sinusite e/ou nasofaringite bacteriana. Alergênios em potencial devem ser eliminados do ambiente do paciente e a imunoterapia deve ser considerada.
Crianças pequenas suscetíveis com perda auditiva prolongada por otite serosa de longa data precisar de exigir tratamento apropriado para assegurar o desenvolvimento normal da linguagem. A dilatação com balão da tuba auditiva tem sido utilizada como alternativa à colocação de um tubo de timpanostomia (1). Enquanto o paciente está sob anestesia geral, um especialista insere um balão na tuba auditiva e dilata-a brevemente antes de remover o balão. Esse procedimento é uma opção para pacientes com otite média serosa recorrente e para aqueles que não desejam que um tubo de timpanostomia seja colocado. Deve-se ter cautela em alguns pacientes com sintomas leves de disfunção da tuba auditiva (p. ex., sensação de plenitude, pressão ou estalido no ouvido), pois esse procedimento pode causar disfunção patulosa da tuba auditiva; os sintomas incluem uma sensação de plenitude e autofonia (quando os pacientes ouvem a própria respiração), o que pode causar-lhes desconforto.
Como as mudanças na pressão ambiental podem causar barotrauma doloroso, deve-se evitar mergulho subaquático e viagens aéreas ou, quando possível, postergá-los. Se não for possível evitar viagens aéreas, mastigar ou beber alimentos (p. ex., de uma mamadeira) pode ajudar as crianças pequenas. Uma manobra de Valsalva ou politzerização (durante a descida de um avião, a pessoa fecha o nariz mantendo a boca fechada e tenta soprar suavemente pelo nariz; essa manobra força o ar através da tuba auditiva bloqueada) pode ajudar crianças mais velhas e adultos.
Referência sobre o tratamento
1. Poe D, Anand V, Dean M, et al: Balloon dilation of the eustachian tube for dilatory dysfunction: A randomized controlled trial. Laryngoscope 128 (5):1200–1206, 2018. doi: 10.1002/lary.26827 Epub 2017 Sep 20.
Pontos-chave
A otite média serosa é o derrame não inflamatório da orelha média, geralmente após otite média aguda ou após infecção do trato respiratório superior.
O diagnóstico é clínico; para adultos e adolescentes, fazer exame de nasofaringe e, às vezes, estudos de imagem para excluir tumores malignos ou benignos.
Antibióticos e descongestionantes não são úteis.
Se não resolvida em 1 a 3 meses, miringotomia com inserção de tubo de timpanostomia e/ou visualização direta da nasofaringe pode ser necessária.
Crianças com perda auditiva prolongada podem exigir terapia apropriada para assegurar o desenvolvimento normal da linguagem.