Visão geral dos efeitos da luz solar

PorJulia Benedetti, MD, Harvard Medical School
Revisado/Corrigido: out. 2023
Visão Educação para o paciente

A pele pode responder à luz solar com alterações crônicas (p. ex., dermato-heliose [fotoenvelhecimento], queratose actínica) ou agudas (p. ex., fotossensibilidade, queimadura solar).

Radiação ultravioleta (UV)

O sol emite uma vasta gama de radiação eletromagnética. A maioria dos efeitos dermatológicos da luz solar é causada pela radiação UV, que é dividida em 3 bandas: UVA (320 a 400 nm); UVB (280 a 320 nm); e UVC (100 a 280 nm). Como a atmosfera filtra a radiação, apenas a UVA e a UVB chegam à superfície da Terra. O caráter e a quantidade de raios que produzem queimaduras solares (principalmente os de comprimentos de onda < 320 nm) que alcançam a superfície da Terra variam significativamente de acordo com os seguintes fatores:

  • Condições atmosféricas e de superfície

  • Latitude

  • Estação

  • Hora do dia

  • Altitude

  • Camada de ozônio

Exposição da pele à luz solar também depende de vários fatores relacionados ao estilo de vida (p. ex. roupas, ocupação, atividades recreacionais).

Raios que produzem queimaduras solares são filtrados por um vidro e em grande parte por nuvens densas, fumaça e poluição atmosférica; mas eles ainda podem atravessar nuvens claras, neblina ou 30 cm de água limpa, potencialmente causando queimaduras graves. Neve, areia e água intensificam a exposição pelo reflexo dos raios. A exposição aumenta em baixas latitudes (mais perto do equador), no verão e durante o meio-dia (das 10 às 16 h) porque a luz solar atravessa a atmosfera mais diretamente (isto é, em um ângulo menor) nesses ambientes. A exposição também aumenta em altitudes elevadas, principalmente por causa da atmosfera mais fina. O ozônio estratosférico, que filtra a radiação ultravioleta, em especial os comprimentos de onda mais curtos, está sendo depletado pelo homem pela emissão de clorofluorocarbonos (p. ex., em refrigeradores e aerossóis). A diminuição na camada de ozônio aumenta a quantidade de raios UVA e UVB que alcançam a superfície da Terra.

As lâmpadas de bronzeamento utilizam luz artificial que contém mais UVA que UVB. Esse uso de UVA é geralmente divulgado como “seguro” para o bronzeamento da pele, contudo é esperado um efeito deletério a longo prazo, também com a exposição a UVB, incluindo fotoenvelhecimento e câncer de pele. A luz UV emitida por equipamentos de bronzeamento foi classificada como um carcinógeno humano, e foi demonstrado que o bronzeamento artificial aumenta o risco de melanoma. Sendo simples e direto, não há bronzeado "seguro" com exposição aos raios UV.

Fisiopatologia da exposição solar

Efeitos adversos da exposição UV incluem queimadura solar grave e várias alterações crônicas. As alterações crônicas incluem espessamento da pele, rugas e certas lesões como queratose actínica e câncer. A exposição também leva à inativação e perda das células epidérmicas de Langerhans, que são uma parte importante do sistema imunitário da pele.

Como uma resposta protetora após exposição à luz do sol, a epiderme se espessa e os melanócitos produzem o pigmento de melanina em uma taxa mais alta, causando o que é conhecido como "bronzeado". O bronzeamento fornece alguma proteção natural contra radiação UV, mas normalmente não tem nenhum benefício para a saúde.

Os indivíduos diferem muito quanto à sensibilidade e resposta à luz solar, principalmente com base na quantidade de melanina na pele. A pele foi classificada em 6 tipos (I a VI) em ordem decrescente de suscetibilidade ao dano solar. A classificação baseia-se em variáveis interrelacionadas como cor da pele, sensibilidade à radiação UV e resposta à exposição solar (ver tabela Classificação do tipo de pele de Fitzpatrick). O tipo de pele I é claro a muito levemente pigmentado, muito sensível à luz UV, não apresenta pigmentação imediata, sempre se queima facilmente e nunca se bronzeia. A pele tipo VI tem coloração marrom escuro ou preto, é a mais protegida contra a radiação UV, e tem uma cor escura intensa (preto-marrom) com ou sem exposição ao sol. Mas pessoas de pele mais escura não são imunes aos efeitos do sol e pele pigmentada escura pode desenvolver dano solar com exposição forte e prolongada. Os efeitos a longo prazo da exposição ao UV em indivíduos de pele mais escura são os mesmos que nos de pele mais clara, porém surgem mais tarde e geralmente são menos graves porque a melanina em sua pele fornece proteção intrínseca contra essa radiação.

Pessoas com cabelo loiro ou ruivo são especialmente suscetíveis aos efeitos agudos ou crônicos da exposição aos raios UV. Depósitos irregulares de melanina ocorrem na maioria das pessoas claras e resultam em efélides.

Não há pigmentação em albinos devido a um defeito no metabolismo da melanina. Há áreas irregulares de despigmentação em pacientes com vitiligo devido à destruição imunológicia dos melanócitos. Estes e qualquer outro grupo de pessoas que são incapazes de produzir melanina em uma taxa rápida e completa são especialmente suscetíveis a danos induzidos pela luz solar.

Tabela
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Prevenção dos efeitos da exposição solar

Evitar o sol, utilizar roupas protetoras e aplicar filtro solar ajudam a minimizar a exposição UV. Dois suplementos orais — Polypodium leucotomos e nicotinamida — também podem fornecer alguma proteção contra danos causados pelo sol (por exemplo, espessamento da pele, rugas).

Evitar o sol

A simples precaução ajuda a prevenir a queimadura solar e os efeitos crônicos da luz solar. É recomendada para aqueles indivíduos com todos os tipos de pele, em particular aqueles com pele clara e que se queima com facilidade. A exposição ao sol do meio-dia e outros ambientes de alta radiação UV [ver Radiação ultravioleta (UV)] deve ser minimizada (30 minutos ou menos), mesmo para pessoas com pele escura. Em zonas temperadas, a intensidade dos raios UV é menor antes das 10 horas da manhã e após as 16 horas porque mais comprimentos de onda que produzem queimaduras solares são filtrados. Nevoeiros e nuvens não reduzem o risco significativamente; o risco aumenta em altas altitudes e baixas latitudes (p. ex., na linha do Equador).

Embora a exposição solar ajude a produzir vitamina D, muitos especialistas recomendam a manutenção de níveis adequados de vitamina D consumindo suplementos, se necessário, em vez de exposição excessiva à luz solar.

Roupas protetoras

A exposição da pele à radiação UV pode ser minimizada por meio da utilização de revestimentos protetores como chapéus, camisas, calças e óculos escuros. Tecidos com tramas estreitas bloqueiam o sol melhor do que aqueles com configuração mais frouxa. Roupas especiais que produzem alta proteção ao sol são encontradas comercialmente. Esse tipo de vestuário é rotulado pelo termo fator de proteção ultravioleta (FPU) seguido por um número que indica o nível de proteção (semelhante a rotulagem dos filtros solares). Chapéus de abas largas ajudam a proteger a face, orelhas e pescoço, mas essas áreas ainda precisam de proteção suplementar com um filtro solar tópico. O uso regular de protetor UV ao redor dos óculos escuros ajuda a proteger os olhos e pálpebras.

Fotoprotetores

Filtros solares ajudam a proteger a pele contra queimaduras solares e danos crônicos provocados pelo sol absorvendo ou refletindo os raios solares UV. Protetores solares mais antigos tendem a filtrar apenas a luz UVB, mas a maioria dos protetores solares mais recentes também filtra a luz UVA e é identificada como de "amplo espectro". Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) classifica os filtros solares pelo fator de proteção solar (FPS): quanto maior o número, melhor a proteção. O FPS só quantifica a proteção contra exposição UVB; não há uma escala nos Estados Unidos para proteção UVA, mas recomendações formais podem estar por vir. As pessoas normalmente devem utilizar um protetor solar de amplo espectro com uma classificação FSP de 30 ou mais.

Há filtros solares disponíveis em uma ampla variedade de apresentações, como cremes, sprays, espumas, géis e bastões. Os ingredientes do filtro solar funcionam absorvendo e/ou refletindo a luz. Os produtos autobronzeantes não protegem à exposição ao UV.

Filtros solares químicos contêm ingredientes que absorvem a radiação UV. Cinamatos, salicilatos e derivados do ácido para-aminobenzóico (PABA) fornecem proteção UVB. Benzofenonas são comumente utilizadas para fornecer proteção contra UVB e UVA de ondas curtas. Avobenzona e ecamsule filtram no intervalo UVA e podem ser acrescentados para fornecer proteção UVA extra.

O bloqueio físico (filtros solares minerais) reflete ou dispersa a luz e contém óxido de zinco e dióxido de titânio, que refletem fisicamente os raios UVB e UVA. Embora as formulações desses produtos fossem previamente muito brancas e pastosas quando aplicadas, a micronização e nanotecnologia permitiram que formassem uma camada mais transparente e, ao mesmo tempo, fornecessem proteção de amplo espectro.

Acredita-se que todos os ingredientes químicos dos filtros solares tenham algum grau de absorção sistêmica. Embora a maioria dos ingredientes tenha efeitos adversos mínimos, alguns têm risco potencial e outros estão sendo investigados atualmente. Para as pessoas preocupadas com a absorção sistêmica, os filtros solares minerais que não foram micronizados podem ser preferidos, porque suas moléculas são grandes demais para serem absorvidas pela pele.

A ineficiência de um filtro solar é comum e, geralmente, resultante da aplicação tardia do produto (deve-se aplicar o filtro solar 30 minutos antes da exposição), da não reaplicação após suar ou nadar, ou da não aplicação a cada 2 ou 3 horas durante a exposição ao sol, ou aplicação insuficiente do produto. Deve-se utilizar 30 mL para cobrir toda a superfície do corpo de uma pessoa de tamanho médio; a maioria das pessoas aplica menos da metade da quantidade recomendada.

Pode haver reação alérgica ou fotosensibilidade com protetores solares contendo filtros químicos e deve-se diferenciá-los de outros exantemas de fotossensibilidade. Testes de contato ou fototestes com componentes dos filtros solares podem ser necessários para confirmar o diagnóstico. Isso costuma ser realizado por dermatologistas com experiência em dermatite de contato alérgica.

Suplementos protetores

Polypodium leucotomos (extrato natural de samambaia tropical) (1) e nicotinamida são suplementos orais que fornecem alguma proteção contra os efeitos nocivos da luz solar, mas não devem ser considerados um substituto para outros métodos de proteção solar. Deve-se ter cautela ao utilizar doses mais altas de nicotinamida porque podem causar lesão hepática e elevar os níveis séricos de glicose.

Referência sobre prevenção

  1. 1. Nestor MS, Berman B, Swenson N: Safety and efficacy of oral Polypodium leucotomos extract in healthy adult subjects. J Clin Aesthet Dermatol 8(2):19–23, 2015. PMID: 25741399

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