Tricotilomania é caracterizada pelo impulso de arrancar fios de cabelo recorrentemente, resultando em perda de cabelo.
Pacientes com tricotilomania repetidamente puxam ou arrancam cabelos por razões não cosméticas. Mais comumente, eles arrancam fios de cabelo do couro cabeludo, sobrancelhas e/ou pálpebras, mas qualquer pelo do corpo pode ser arrancado. Os locais em que fios de cabelo são arrancados podem mudar ao longo do tempo.
Para alguns pacientes, essa atividade é relativamente automática (isto é, sem plena consciência); outros estão mais conscientes da atividade. O ato de arrancar fios de cabelo não é desencadeado por obsessões ou preocupações com a aparência (como no transtorno disfórmico corporal), mas pode ser precedido por uma sensação de tensão ou ansiedade que é aliviada ao arrancar fios de cabelo, o que é muitas vezes é seguido por uma sensação de gratificação.
Os pacientes com tricotilomania tentam parar ou diminuir esse comportamento, mas não conseguem.
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Arrancar fios de cabelo normalmente começa um pouco antes ou depois da puberdade. Em um determinado ponto no tempo, cerca de 1 a 2% das pessoas têm o transtorno. Em amostras clínicas, cerca de 80-90% dos adultos com tricotilomania são mulheres.
Sinais e sintomas da tricotilomania
O ato de arrancar fios de cabelo geralmente é crônico, com oscilações dos sintomas se não tratado.
Os padrões da perda de cabelo podem variar entre um paciente e outro. Alguns têm áreas de alopecia total ou cílios e/ou sobrancelhas faltando; outros simplesmente têm pouco cabelo.
Uma variedade dos comportamentos (rituais) pode acompanhar o arrancar de cabelo. Os pacientes podem procurar meticulosamente um determinado tipo de cabelo para arrancar; eles podem tentar assegurar que os fios de cabelo sejam arrancados de uma forma específica. Eles podem enrolar o cabelo entre os dedos, puxar os fios entre os dentes, ou morder o cabelo depois de arrancado. Muitos pacientes engolem os fios de cabelo. Algumas vezes a tricofagia forma tricobezoares (acúmulo de fios de cabelo engolidos que ficam presos no estômago), que raramente levam a complicações clínicas ou cirúrgicas (p. ex., obstrução ou perfuração gástrica) e que possam exigir intervenção.
Os pacientes podem sentir-se constrangidos ou envergonhados com sua aparência ou incapacidade de controlar o comportamento. Muitos tentam camuflar a perda de cabelo cobrindo as áreas calvas (p. ex., utilizando perucas ou lenços). Alguns pacientes arrancam fios de cabelo de áreas amplamente espalhadas para disfarçar a perda. Podem evitar situações em que outras pessoas podem ver a perda de cabelo; normalmente, não arrancam o cabelo na frente de outras pessoas, exceto, talvez, familiares.
Alguns pacientes arrancam fios de cabelo de outras pessoas, de animais de estimação ou de materiais fibrosos (p. ex., roupas, cobertores).
A maioria dos pacientes também tem outros comportamentos repetitivos com foco no corpo, como dermatilomania ou onicofagia. Muitos também têm transtorno depressivo maior.
Diagnóstico da tricotilomania
Critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th ed, Text Revision (DSM-5-TR)
Os principais critérios diagnósticos da tricotilomania são:
Arrancar os cabelos, resultando em alopécia
Fazer tentativas repetidas de diminuir ou interromper o ato de arrancar fios de cabelo
Experimentar sofrimento significativo ou comprometimento da funcionalidade decorrente da atividade
Embora a alopecia tenha uma variedade de causas, os indivíduos com tricotilomania normalmente se voluntariam para dizer que a alopecia é decorrente da mania de puxar o cabelo.
Tratamento da tricotilomania
Terapia cognitivo-comportamental (em geral, treinamento de reversão de hábitos)
Inibidores seletivos de recaptação de serotonina ou clomipramina
N-acetilcisteína ou memantina (moduladores de glutamato)
A terapia cognitivo-comportamental adaptada para o tratamento dos sintomas específicos da tricotilomania é a terapia inicial preferida (1). A recomendação é o treinamento de reversão de hábitos, uma terapia predominantemente comportamental que consiste em:
Treinamento de conscientização (p. ex., automonitoramento, identificação dos gatilhos para o comportamento)
Controle de estímulos (modificar situações — por exemplo, evitar gatilhos — para reduzir a probabilidade de iniciar a dermatilomania e/ou a tricotilomania)
Treinamento de resposta alternativa ou competitiva (ensinar os pacientes a substituir por outros comportamentos, como cerrar os punhos, fazer tricô ou crochê ou sentar sobre as próprias mãos, para a tricotilomania)
Dados limitados sugerem que a clomipramina (um antidepressivo tricíclico com efeitos serotonérgicos potentes) pode ser útil para reduzir a gravidade dos sintomas (2). Clomipramina parece ser mais eficaz do que desipramina (um antidepressivo tricíclico que inibe a recaptação da noradrenalina) (3). Os estudos com ISRSs nos pacientes com tricotilomania são limitados pelo pequeno tamanho das amostras e, portanto, não têm poder estatístico suficiente.
Em ensaios randomizados, os moduladores de glutamato N-acetilcisteína e memantina foram eficazes para adultos (4, 5). Entretanto, em um pequeno estudo em crianças, N-acetilcisteína não foi mais eficaz que o placebo (6). Também há evidências limitadas de que baixas dose dos bloqueadores da dopamina, como a olanzapina, são eficazes, mas a relação entre o risco e o benefício deve ser cuidadosamente avaliada.
Referências sobre o tratamento
1. Farhat LC, Olfson E, Nasir M, et al: Pharmacological and behavioral treatment for trichotillomania: An updated systematic review with meta-analysis. Depress Anxiety 37(8):715-727, 2020. doi: 10.1002/da.23028
2. Hoffman J, William T, Rothbart R, et al: Pharmacotherapy for trichotillomania. Cochrane Database Syst Rev 9(9):CD007662, 2021. doi: 10.1002/14651858.CD007662.pub3
3. Swedo SE, Leonard HL, Rapoport JL, et al: A double-blind comparison of clomipramine and desipramine in the treatment of trichotillomania (hair pulling). N Engl J Med
4. Grant JE, Odlaug BL, Kim SW: N-Acetylcysteine, a glutamate modulator, in the treatment of trichotillomania: A double-blind, placebo-controlled study. Arch Gen Psychiatry 66(7):756–763, 2009. doi: 10.1001/archgenpsychiatry.2009.60
5. Grant JE, Chesivoir E, Valle S, et al: Double-blind placebo-controlled study of memantine in trichotillomania and skin-picking disorder. Am J Psychiatry 180(5):348-356, 2023. doi: 10.1176/appi.ajp.20220737
6. Bloch MH, Panza KE, Grant JE, et al: N-Acetylcysteine in the treatment of pediatric trichotillomania: A randomized, double-blind, placebo-controlled add-on trial. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 52(3):231–240, 2013. doi: 10.1016/j.jaac.2012.12.020
Pontos-chave
Na tricotilomania, o comportamento não é deflagrado por obsessões ou preocupações com a aparência, mas pode ser precedido por uma sensação de tensão ou ansiedade que é aliviada ao arrancar os fios de cabelo, muitas vezes seguido por uma sensação de gratificação.
Os padrões da perda de cabelo variam de áreas de cabelo rarefeito, ausência de cílios e/ou sobrancelhas a áreas de alopecia completa.
Pacientes com tricotilomania tentam parar ou diminuir o comportamento, mas não conseguem.
Tratar com terapia cognitivo-comportamental adaptada ao tratamento dos sintomas específicos da tricotilomania (especificamente, treinamento de reversão de hábitos) e, possivelmente, um ISRS ou clomipramina, N-acetilcisteína ou memantina.