Cólera

PorLarry M. Bush, MD, FACP, Charles E. Schmidt College of Medicine, Florida Atlantic University
Revisado/Corrigido: jun. 2024
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Cólera é uma infecção séria do intestino causada pela bactéria Gram‑negativa Vibrio cholerae. Essa infecção causa diarreia grave, que pode ser fatal sem tratamento.

  • As pessoas são infectadas quando consomem alimentos, muitas vezes mariscos ou água contaminados.

  • A cólera é rara, exceto em áreas onde a higiene é inadequada.

  • As pessoas apresentam diarreia aquosa e vômito, geralmente sem febre.

  • Identificar a bactéria em uma amostra de fezes confirma o diagnóstico.

  • Ao repor líquidos perdidos e dar antibióticos, trata-se a infecção eficazmente.

(Consulte também Considerações gerais sobre bactérias).

Várias espécies de bactérias Vibrio causam diarreia (consulte a tabela Micro-organismos que causam gastroenterite). A doença mais séria, a cólera, é causada apenas pelo Vibrio cholerae.

A infecção pelo Vibrio cholerae é adquirida pela ingestão de água, mariscos ou outros alimentos contaminados por fezes de pessoas infectadas. Quando infectadas, as pessoas excretam a bactéria nas fezes. Assim, a infecção se alastra com rapidez, principalmente em áreas onde os excrementos humanos não são tratados.

Antes comum em todo o mundo, atualmente a cólera é mais comum em partes da Ásia, Oriente Médio, África e América do Sul e Central. Alguns surtos ocorreram na Europa, Japão e Austrália. Nos Estados Unidos, a cólera pode ocorrer ao longo da costa do Golfo do México.

Grandes surtos de cólera continuam a ocorrer em todos os locais nos quais há pobreza e nos quais as pessoas não têm acesso a água potável e a uma rede de esgotos sanitários. Houve uma epidemia grave de cólera no Haiti após o terremoto de 2010 e esta perdurou até 2017. Durante esse surto, mais de 820 mil pessoas adoeceram e quase 10 mil morreram. Um surto no Iêmen teve início em 2016 e persiste até hoje. Esse surto tem efeitos ainda mais devastadores. Mais de 2,5 milhões de pessoas no Iêmen adoeceram e quase 4 mil morreram. Acredita-se que tenha sido o maior surto de cólera e com a disseminação mais rápida da história atual e, em seu pico em 2019, foi responsável por mais de 90% dos casos de cólera no mundo. O Haiti também teve um novo surto que começou no final de 2022 depois de o país ter sido declarado livre de cólera por três anos. Esse surto ainda não terminou.

Os surtos de cólera têm aumentado em todo o mundo desde 2021, e os casos relatados dobraram de 2021 para 2022. Em 2022, sete países na África e na Ásia relataram surtos de mais de 10.000 casos cada.

Em áreas endêmicas (áreas onde há uma taxa contínua e relativamente constante de infecção), os surtos geralmente ocorrem quando guerras ou conflitos civis interrompem os serviços de saneamento público. A infecção é mais comum durante os meses quentes e, especialmente, em crianças pequenas e desnutridas. Em áreas recém-afetadas, os surtos podem ocorrer durante qualquer estação e afetar todas as idades de igual modo.

Para a infecção se desenvolver, devem ser consumidas muitas bactérias. Depois disso, elas podem ser numerosas demais para o ácido gástrico matar, e algumas bactérias conseguem alcançar o intestino delgado, onde crescem e produzem uma toxina. A toxina faz o intestino delgado secretar enormes quantidades de líquido de sais e água. O corpo perde esse líquido na diarreia aquosa. A causa de morte deve-se à perda de água e sais. As bactérias permanecem no intestino delgado e não invadem os tecidos.

Como o ácido gástrico mata as bactérias, as pessoas que produzem menos ácido gástrico estão mais propensas a contrair a cólera. Essas pessoas incluem

  • Crianças pequenas

  • Idosos

  • Pessoas que tomam medicamentos para reduzir a acidez gástrica, incluindo inibidores da bomba de prótons (como omeprazol) e bloqueadores de histamina-2 (H2) (como a famotidina).

Pessoas com sangue tipo O também correm maior risco de infecção.

Pessoas que vivem em áreas endêmicas adquirem alguma imunidade gradualmente.

Você sabia que...

  • Sem tratamento, a cólera é fatal em mais de 50% das pessoas.

Sintomas da cólera

A maioria das pessoas infectadas não apresenta sintomas.

Quando os sintomas da cólera ocorrem, eles começam um a três dias após a exposição, geralmente com diarreia aquosa indolor e vômito repentinos. Geralmente, as pessoas não têm febre.

A diarreia e o vômito podem ser de leves a intensos. Nas infecções graves em adultos, mais de um litro de água e sais é perdido por hora. As fezes são abundantes e aquosas e são descritas como fezes com aparência de água de arroz. Em poucas horas a desidratação torna-se grave, causando sede intensa, cãibras musculares e fraqueza. Muito pouca urina é produzida. Os olhos se afundam e a pele dos dedos se enruga bastante. Se a desidratação não for tratada, a perda de água e sais pode causar insuficiência renal, choque, coma e morte.

Em pessoas que recebem tratamento, os sintomas da cólera costumam desaparecer em três a seis dias.

A maioria das pessoas fica livre das bactérias em 2 semanas. As bactérias permanecem em algumas pessoas indefinidamente sem causar sintomas. Tais pessoas são chamadas portadoras.

Diagnóstico da cólera

  • Cultura de uma amostra de fezes

Os médicos podem obter uma amostra de fezes ou usar um esfregaço para obter amostra do reto. Ela é enviada a um laboratório, onde a bactéria da cólera, se presente, pode ser cultivada. Identificar o Vibrio cholerae na amostra confirma o diagnóstico. Os médicos podem usar a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) para aumentar a quantidade de material genético (DNA) das bactérias para que elas possam ser detectadas mais rapidamente.

São feitos exames de sangue e urina para avaliar a desidratação e o funcionamento dos rins.

Tratamento da cólera

  • Líquidos que contêm sal

  • Um antibiótico

Reposição de água e sais minerais do corpo perdidos

A rápida reposição de água e sais minerais do corpo perdidos salva vidas. A maioria das pessoas pode ser tratada de forma eficaz com uma solução administrada por via oral. Essas soluções são concebidas para repor os líquidos corporais perdidos.

Para pessoas gravemente desidratadas, que não conseguem beber, é dada uma solução salina por via intravenosa.

Em caso de epidemia, se a solução intravenosa não estiver disponível, as pessoas recebem uma solução salina por via oral ou, se necessário, por meio de sonda que se introduz pelo nariz até chegar ao estômago. Depois que líquidos suficientes são repostos para aliviar os sintomas, as pessoas devem beber pelo menos a solução salina suficiente para repor os líquidos que perderam pela diarreia e vômito.

As pessoas também são incentivadas a tomar tanta água quanto desejarem. Alimentos sólidos podem ser ingeridos após o vômito parar e o apetite retornar.

Antibióticos

Geralmente se administra um antibiótico para reduzir a gravidade da diarreia e fazê-la parar antes. Além disso, as pessoas que recebem um antibiótico são ligeiramente menos propensas a transmitir a infecção durante um surto.

O antibiótico doxiciclina é administrado a todas as pessoas, incluindo crianças e gestantes. Outros antibióticos que podem ser usados são azitromicina e ciprofloxacino. Cada um desses antibióticos é tomado por via oral. Os médicos selecionam antibióticos que são conhecidos pela eficácia contra bactérias que causam cólera na comunidade local.

Para crianças em áreas de poucos recursos, suplementos de zinco podem ajudar a reduzir a gravidade e a duração dos sintomas.

Prevenção da cólera

Os procedimentos a seguir são essenciais para a prevenção da cólera:

  • Purificação dos sistemas de abastecimento de água

  • Eliminação adequada dos resíduos humanos

Em áreas onde ocorre a cólera, outras precauções incluem

  • Usar água fervida ou clorada

  • Evitar legumes e verduras não cozidos e mariscos mal cozidos.

Os mariscos também podem transmitir outras formas de Vibrio.

Vacinas

Nos Estados Unidos, a vacina contra a cólera (Vaxchora) está disponível para pessoas de 2 a 64 anos de idade se estiverem viajando para áreas onde há cólera. Ela é tomada por via oral em uma dose única. Não entanto, não se sabe se essa vacina é eficaz por mais de três a seis meses.

Três outras vacinas para a cólera estão disponíveis fora dos Estados Unidos (Dukoral, ShanChol e Euvichol). Essas vacinas conferem proteção de 60% a 85% por 2 a 3 anos. Essas vacinas são tomadas por via oral em duas doses. São recomendadas doses de reforço depois de dois anos para pessoas que continuam em risco de contrair cólera.

Mais informações

O seguinte recurso em inglês pode ser útil. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC): Cólera: Um recurso que fornece informações sobre a cólera, incluindo surtos e fatores de risco

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