Opioides

PorGerald F. O’Malley, DO, Grand Strand Regional Medical Center;
Rika O’Malley, MD, Grand Strand Medical Center
Revisado/Corrigido: dez 2022
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Opioides, uma classe de drogas derivadas da papoula do oriente (incluindo suas variações sintéticas), são analgésicos altamente suscetíveis ao uso indevido.

  • Os opioides são usados para aliviar a dor, mas também provocam uma sensação exagerada de bem-estar e, se usados em exagero, podem levar à dependência e ao vício.

  • Usar opioides em exagero pode ser fatal, normalmente levando a uma parada respiratória.

  • Pode-se fazer exames de urina para procurar opioides.

  • As estratégias de tratamento incluem a terapia de desintoxicação (interromper a droga), a terapia de substituição (quando a droga é substituída por outro medicamento cuja dose é depois reduzida gradativamente) e a terapia de manutenção (quando a droga é substituída por outro medicamento que é então tomado indefinidamente).

  • Psicoterapia e apoio contínuos são essenciais para todas as estratégias de tratamento.

O termo “opioide” é utilizado para denominar várias substâncias derivadas da papoula de ópio e suas variações sintéticas e semissintéticas. Os opioides têm um uso médico legítimo como analgésicos potentes. Eles incluem a codeína (que tem um baixo potencial para criar dependência), oxicodona (isolada e em várias combinações, como oxicodona e paracetamol), meperidina, morfina, pentazocina e hidromorfona. A metadona ingerida pela boca e a fentanila, administrada por um adesivo na pele, são usadas para dor grave crônica. A heroína é um opioide potente que é ilegal nos Estados Unidos, mas ela é usada para aplicações de tratamento muito limitadas em outros países.

O abuso dos opioides é algo relativamente comum, pois essas drogas se encontram amplamente disponíveis e provocam uma sensação exagerada de bem-estar. Uma pessoa pode se tornar dependente de qualquer opioide (consulte também Uso e abuso de drogas).

A dependência ou vício graves raramente ocorrem quando a pessoa usa opioides para tratar um episódio breve de dor intensa (por exemplo, aquela causada por queimaduras ou fraturas). Embora muitas pessoas que usam opioides para alívio da dor durante um período superior a vários dias sintam alguns sintomas leves de abstinência de opioides quando interrompem o uso, as pessoas que tomam opioides por muito tempo para tratar dor crônica têm um risco maior de desenvolver o transtorno relacionado ao uso de substâncias.

O desenvolvimento da tolerância pode ocorrer depois de alguns dias do uso contínuo de opioides. Ou seja, a pessoa precisa cada vez mais de uma droga para sentir os efeitos originalmente produzidos por uma quantidade menor. A pessoa pode se tornar mais tolerante a alguns efeitos que a outros. Embora as pessoas com um transtorno de abuso de substâncias frequentemente tenham tolerância a drogas, ter tolerância não significa propriamente que a pessoa tem um transtorno de abuso de substâncias.

Você sabia que...

  • Caso monitorado por um médico, o uso de opioides por algum tempo para aliviar a dor de uma lesão imediata raramente leva à toxicodependência.

  • Usar opioides durante a gestação pode levar à toxicodependência do feto, e a sintomas de abstinência no recém-nascido.

Sinais e sintomas da intoxicação ou abstinência de opioides

Os opioides causam sintomas imediatos e, às vezes, de longo prazo.

Efeitos imediatos

Os opioides são medicamentos com efeitos analgésicos e sedativos potentes, fazendo com que as pessoas fiquem sonolentas e quietas. Os opioides também podem provocar euforia.

Outros efeitos menos desejáveis incluem

  • Constipação intestinal

  • Náusea e vômito

  • Rubor facial

  • Prurido

  • Confusão (especialmente em pessoas idosas)

Os produtos resultantes da decomposição (metabolismo) do opioide meperidina podem provocar convulsões.

Quando tomados com determinadas drogas, alguns opioides podem provocar um transtorno grave chamado de síndrome da serotonina. Essa síndrome é caracterizada por confusão, tremores, espasmos involuntários dos músculos, agitação, transpiração excessiva e alta temperatura do corpo.

Um quadro clínico raro chamado leucoencefalopatia espongiforme foi relatado em usuários de heroína que inalam a droga. Os sintomas variam e podem incluir inquietação motora, apatia, coordenação prejudicada (ataxia) ou paralisia. Os sintomas podem se resolver ou podem progredir para problemas no sistema nervoso autônomo e morte.

Overdose

Usar muito de um opioide de uma única vez (overdose) é letal. Houve cerca de 91.800 mortes por overdose de opioides nos Estados Unidos em 2020. A respiração fica tão lenta e superficial que chega a ser perigosa e os pulmões podem parar de funcionar. Os pulmões podem ficar cheios de líquido. A pressão arterial, a frequência cardíaca e a temperatura do corpo podem diminuir, e as pupilas podem se retrair (ficando como pontos pequenos). A pessoa pode acabar ficando inconsciente ou morrendo, normalmente porque a respiração para. Combinar opioides com álcool ou outros sedativos é uma prática ainda mais letal.

Efeitos no longo prazo

Os opioides em si, não provocam muitas complicações no longo prazo, a não ser a dependência. Algumas pessoas apresentam efeitos colaterais leves, como constipação crônica, sudorese excessiva, sonolência ou redução da libido. No entanto, muitas complicações podem resultar do compartilhamento de agulhas com outras pessoas e por injetar, sem saber, outras substâncias com o opioide.

Sintomas de abstinência

A abstinência de opioides é desconfortável, mas raramente é fatal. Os sintomas podem surgir logo em quatro horas depois da interrupção do uso do opioide e, em geral, alcançam seu ponto máximo depois de 48 a 72 horas. Normalmente, esses sintomas desaparecem depois de cerca de uma semana, embora esse período possa variar consideravelmente, dependendo de qual opioide é usado.

Cada opioide é eliminado do corpo a uma taxa diferente, o que altera a rapidez com que a abstinência progride e para. Os sintomas de abstinência são piores nas pessoas que usaram doses altas por um longo tempo:

  • Primeiro, a pessoa se sente ansiosa e anseia pela droga.

  • A respiração se torna rápida, normalmente acompanhada de bocejo, transpiração, olhos lacrimejantes, corrimento nasal, pupilas dilatadas e cólicas estomacais.

  • Depois, a pessoa pode ficar hiperativa e agitada e ter seu estado de alerta aumentado.

  • Aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial.

Outros sintomas de abstinência incluem

  • Pele arrepiada

  • Tremores

  • Espasmos musculares

  • Febre e calafrios

  • Dores musculares

  • Perda de apetite

  • Náusea e vômito

  • Diarreia

O uso de opioides durante a gestação é especialmente grave, uma vez que a heroína e a metadona atravessam facilmente a placenta e afetam o feto (consulte De que maneira as drogas atravessam a placenta). Uma vez que os bebês de mães usuárias de opioides foram expostos às drogas usadas pela mãe, eles podem vir a apresentar sintomas de abstinência rapidamente, incluindo

  • Tremores

  • Choro estridente

  • Nervosismo

  • Convulsões

  • Respiração rápida

Se as mães usarem opioides imediatamente antes do parto, a respiração do bebê pode ser fraca.

Diagnóstico da intoxicação ou abstinência de opioides

  • Avaliação médica

  • Às vezes, exames de urina

A intoxicação aguda por opioide normalmente fica aparente com base no que a própria pessoa ou os amigos informam ao médico e também com base nos resultados do exame físico. Se não estiver claro por que uma pessoa está agindo de modo anormal, o médico talvez faça exames para descartar outras possíveis causas para os sintomas, como, por exemplo, níveis baixos de glicose no sangue ou traumatismo craniano. O médico pode também fazer exames de urina para verificar a presença da droga. Outros exames podem ser feitos para procurar complicações.

Tratamento da intoxicação ou abstinência de opioides

Uma overdose de opioides exige tratamento em caráter de emergência, porém o objetivo final do tratamento, que também é o mais difícil, é ajudar a pessoa a controlar o uso de opioides. O tratamento pode incluir

  • Tratamento de emergência

  • Desintoxicação

  • Possível tratamento de manutenção (para pessoas que não conseguem parar)

  • Reabilitação

Tratamento de emergência

Uma overdose de opioides é uma emergência médica, que precisa ser tratada rapidamente para evitar a morte. Pode ser necessário suporte respiratório, às vezes com ventilação mecânica caso a overdose tenha suprimido a respiração.

Um medicamento chamado naloxona é administrado como um antídoto ao opioide, revertendo, rapidamente, todos os efeitos colaterais. Ela é administrada por injeção ou spray nasal. Como algumas pessoas se tornam, por pouco tempo, agitadas e delirantes antes de se tornarem completamente conscientes, o confinamento físico pode ser aplicado por um curto período. Uma vez que a naloxona precipita o aparecimento dos sintomas da abstinência em dependentes de opioides, ela é usada apenas quando necessário (por exemplo, quando a respiração está fraca).

As pessoas que se recuperam de uma overdose devem ser observadas por várias horas, até que os efeitos da naloxona tenham desaparecido, para haver certeza de que não resta nenhum efeito colateral do opioide. Se a pessoa tiver usado opioide com efeitos duradouros (como a metadona ou formas de liberação lenta de outros opioides), ela será, normalmente, observada por um período mais longo.

Se os sintomas voltarem a aparecer, a pessoa poderá receber uma outra dose de naloxona, ser internada em um hospital, ou os dois.

Desintoxicação

Há diversos tipos de abordagens à desintoxicação:

  • Parar o opioide abruptamente e permitir que a abstinência ocorra normalmente (desintoxicação “na marra”)

  • Substituir por uma droga semelhante, mas menos potente e, depois, reduzir gradualmente a dose e interromper a droga

Em ambas as estratégias de desintoxicação, normalmente é necessário tratamento para diminuir os sintomas da abstinência. O medicamento clonidina normalmente oferece um pouco de alívio. No entanto, a clonidina pode provocar efeitos colaterais, como hipotensão e sonolência. A própria interrupção da clonidina pode provocar sintomas de abstinência, como inquietação, insônia, irritabilidade, frequência cardíaca elevada e dores de cabeça.

A substituição geralmente é realizada com medicamentos, como a metadona e a buprenorfina, cujas doses são então gradualmente reduzidas até acabarem sendo completamente interrompidas.

  • A metadona é um opioide tomado por via oral. Ela bloqueia os sintomas de abstinência e o anseio por outros opioides, especialmente a heroína. Como os efeitos da metadona são muito mais duradouros do que os de outros opioides, pode-se tomá-la menos vezes, normalmente uma vez ao dia. A dose pode, assim, ser diminuída gradualmente. O uso da metadona precisa ser supervisionado através de um programa de tratamento de metadona autorizado. Às vezes, doses elevadas de metadona causam ritmos cardíacos anormais. Portanto, as pessoas que estão recebendo tratamento com esse fármaco são cuidadosamente monitoradas quando a terapia é iniciada ou se a dose é modificada.

  • A buprenorfina é um agonista-antagonista opioide misto. Isso significa que ela tem alguns dos efeitos dos opioides (agonista), mas também bloqueia alguns dos efeitos dos opioides (antagonista). Ela não requer o monitoramento em um programa especial e, portanto, os médicos treinados com relação ao seu uso podem receitá-la no consultório. Em muitos países, a buprenorfina substituiu a metadona em programas de desintoxicação.

A desintoxicação precisa ser seguida de reabilitação para evitar que a pessoa volte a usar a droga. O tratamento contínuo pode incluir psicoterapia e apoio de longo prazo, além de medicamentos tais como a naltrexona.

Tratamento de manutenção

Um outro método denominado manutenção costuma ser preferido para pessoas que voltam, continuamente, a usar opioides (um quadro clínico denominado transtorno relacionado ao uso de opioides). Ele consiste na substituição de um medicamento receitado em uma dose regular que o usuário toma por um longo período (meses ou anos), em vez de diminuir a dose e por fim suspender o medicamento. A metadona, a buprenorfina ou a naltrexona podem ser usadas para substituir os opioides.

A manutenção de usuários de opioides com doses regulares de um desses medicamentos permite que eles sejam socialmente produtivos, pois não têm que perder tempo em busca do opioide, e porque os medicamentos usados não interferem no funcionamento da forma como a droga ilícita o faz. O tratamento funciona para alguns usuários de opioides. Para muitas dessas pessoas, é necessária uma manutenção durante toda a vida.

A metadona suprime os sintomas de abstinência e o anseio pelo opioide, sem tornar os usuários de opioides excessivamente sonolentos ou eufóricos. No entanto, os usuários de opioides têm que comparecer diariamente à clínica, onde receberão metadona na quantidade necessária para evitar o aparecimento de sintomas de abstinência graves, minimizar o anseio pela droga e ajudar no funcionamento diário.

A buprenorfina está sendo cada vez mais usada, pois pode ser receitada pelos médicos em seu consultório. Assim, os usuários de opioides não precisam ir a uma clínica especial.

A naltrexona é um medicamento que bloqueia os efeitos dos opioides (antagonista de opioide). Antes de começar a administração da naltrexona, a pessoa deverá ser completamente desintoxicada dos opioides ou uma reação grave de abstinência poderá ocorrer. Dependendo da dose, os efeitos da naltrexona duram de 24 a 72 horas. Assim, o medicamento pode ser tomado uma vez por dia ou apenas três vezes por semana. Uma vez que a naltrexona não tem efeitos opioides, esse medicamento é particularmente útil para usuários de opioides que estão fortemente motivados a abandonar o vício e que não têm dependência de opioides grave.

Reabilitação

Independentemente de qual método é usado, a psicoterapia e o apoio contínuos são essenciais. Os cuidados podem incluir assistência de médicos, enfermeiras e terapeutas especialmente treinados, programas de manutenção de opioides, apoio de familiares, amigos e outras pessoas com o mesmo transtorno relacionado ao uso de substâncias (grupos de apoio).

O conceito de comunidade terapêutica surgiu há quase 25 anos, como resposta aos problemas de uso da heroína. Os pioneiros desse método sem medicamentos foram o Samaritan Daytop Village e a Phoenix House. Os usuários de opioides vivem em um centro residencial comunal por um longo período. Esses programas ajudam as pessoas a reconstruir suas vidas por meio de treinamento, educação e redirecionamento. Os programas ajudaram muitas pessoas, mas as taxas iniciais de desistência foram altas.

Perguntas sobre o funcionamento desses programas e em que amplitude devem ser aplicados permanecem sem respostas. Como esses programas precisam de muitos recursos para funcionar, muitas pessoas podem não conseguir pagá-los.

Mais informações

Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. National Institute on Drug Abuse (NIDA): Informações específicas sobre opioides, da agência do governo federal americano, que dá apoio à pesquisa científica relacionada ao uso da droga e suas consequências, além de oferecer informações sobre drogas de uso comum, a prioridade e o avanço da pesquisa, recursos clínicos e oportunidades de bolsas e financiamento.

  2. Phoenix House: Tratamento residencial para transtorno por uso de substâncias nos estados e em Washington, DC.

  3. Samaritan Daytop Village: Uma agência sediada em Nova York que ajuda várias populações a enfrentarem a dependência, incluindo veteranos de guerra, mães e bebês e pessoas sem-teto.

  4. Administração de serviços de abuso de substâncias e de saúde mental (Substance Abuse and Mental Health Services Administration, SAMHSA): Uma agência do Ministério da Saúde dos EUA que lidera as iniciativas de saúde pública para melhorar a saúde comportamental e oferece recursos, incluindo localizadores de tratamento, linhas diretas de discagem gratuita, ferramentas de treinamento para profissionais, dados estatísticos e publicações sobre vários assuntos relacionados a substâncias.

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