Manifestações comuns associadas à infecção por HIV em sistemas orgânicos

Síndrome

Causa

Avaliação diagnóstica

Tratamento*

Sintomas/comentários

Cardíaco

Cardiomiopatia

Lesão direta viral nos miócitos cardíacos

Ecocardiografia

Antirretrovirais

Sintomas de insuficiência cardíaca

Gastrointestinal

Esofagite

Candidíase, CMV ou herpes-vírus simples

Esofagoscopia com biópsia de úlcera

Tratamento da causa com antivirais e antimicrobianos

Disfagia, anorexia

Gastroenterite ou colite

Salmonella intestinal, MAC, Cryptosporidium, (criptosporidiose), Cyclospora (ciclosporíase), CMV,microsporídiosCystoisospora (Isospora) belli, (cistoisosporíase) ou Clostridioides difficile

Culturas e coloração de fezes ou biópsia, mas a determinação da causa pode ser difícil

Tratamento da causa:

  • Antibióticos para Salmonella, MAC e C. difficile

  • SMX/TMP para Cyclospora

  • Fármacos antimicrobianos para Cystoisospora e microsporídios

  • Fármacos antivirais para CMV

Diarreia, perda ponderal, cólica abdominal

Colecistite ou colangite

CMV, Cryptosporidium, Cyclospora ou microsporídios

Ultrassonografia ou endoscopia

Fármacos antivirais para CMV

Antirretrovirais para Cryptosporidium, Cyclospora e microsporídios

Pode causar dor ou obstrução

Lesões retais e perirretais

Proctite causada por Neisseria gonorrhoeae ou Chlamydia trachomatis (particularmente LGV), HSV, sífilis

Exame

Coloração de Gram e cultura

Testes de amplificação de ácido nucleico (NAAT)

Teste RPR/antígeno treponêmico

Biópsia

Tratamento da causa

Alta incidência em mulheres e homens que fazem sexo com homens via relação sexual anal receptiva†

Lesão hepatocelular por hepatites virais, infecções oportunistas ou toxicidade do fármaco antiviral

Tuberculose, MAC, CMV, ou peliose (bartonelose)

hepatite B crônica ou hepatite C crônica, que podem piorar pelo HIV

Necessário diferenciar da hepatite em razão do uso de fármacos antirretrovirais ou outros fármacos

Algumas vezes, a biópsia hepática é necessária

Tratamento da causa

Sintomas de hepatite (p. ex., anorexia, náuseas, vômitos, icterícia)

Trato genital/reprodutivo

Lesões anais e genitais externas

Herpes simplex virus (HSV)

Verrugas genitais ou câncer anal ou cervical induzido por HPV

Vírus da varíola M (ex-varíola dos macacos)

Exame

Coloração de Gram e cultura

Testes de amplificação de ácido nucleico (NAAT)

Biópsia

Tratamento da causa

Alta incidência em mulheres e homens que fazem sexo com homens via relação sexual anal receptiva†

Doença inflamatória pélvica

Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis ou outros patógenos usuais

Ver Doença inflamatória pélvica: diagnóstico

Ver Doença inflamatória pélvica: tratamento

Possivelmente maior em gravidade, apresentação atípica e mais difícil de tratar em mulheres com HIV

Candidíase vaginal

Candida spp.

Vaginite por Candida: diagnóstico

Vaginite por Candida: tratamento

Possivelmente maior em gravidade ou recorrência em mulheres com HIV

Hematológico

Anemia

Multifatorial:

Supressão de medula induzida pelo HIV

Destruição periférica imunomediada

Anemia decorrente de doença crônica

Infecções, em particular parvovírus humano B-19 e MAC ou histoplasmose disseminados

Cânceres

Ver Avaliação da anemia

Para infecção por parvovírus B19, exame de medula óssea (para verificar a presença de eritroblastos multinucleados) ou PCR sérico ou da médula óssea

Tratamento da causa

Transfusão, conforme necessário

Eritropoetina para anemia por causa de fármacos antineoplásicos ou zidovudina se for grave o suficiente para justificar transfusão e se o nível de eritropoetina for < 500 mU/L

IGIV para parvovírus

Parvovírus pode produzir anemia aguda grave

Trombocitopenia

Trombocitopenia imunitária, toxicidade por fármacos, supressão de medula óssea induzida pelo HIV destruição periférica imunomediada, infecções ou câncer

Hemograma, sangramento, TTP, amostra de sangue periférico, biópsia de medula óssea, ou fator de von Willebrand

Antirretrovirais

IGIV em caso de sangramento ou no pré-operatório

Possivelmente IgG anti-Rho (D), vincristina, danazol, ou interferona

Esplenectomia, quando grave e intratável

Frequentemente assintomática e pode ocorrer em outras infecções assintomáticas pelo HIV

Neutropenia

Supressão de medula induzida pelo HIV destruição periférica imunomediada, infecções, câncer, toxicidade por fármacos

Ver Neutropenia: diagnóstico

Para neutropenia grave (< 500/mcL) acompanhada por febre, utilizar imediatamente antibióticos de amplo espectro

Se fármaco-induzida, empregar granulócitos ou fatores estimulantes de colônia de granulócitos e macrófagos

Neurológico

Comprometimento cognitivo leve a grave com ou sem deficit motor

Lesão cerebral direta pelo vírus

HIV RNA no líquido cefalorraquidiano

TC ou RM para verificar atrofia cerebral (não é específica)

Fármacos antirretrovirais podem reverter a lesão e melhorar a função, embora níveis baixos da disfunção cognitiva costumem persistir, mesmo em pacientes tratados

A evolução para demência é incomum nos pacientes tratados

Paralisia ascendente

Síndrome de Guillain-Barré ou polirradiculopatia por CMV

RM da medula espinal

Exame de líquido cefalorraquidiano

Tratamento de polirradiculopatia por CMV

Cuidado de suporte para síndrome de Guillain-Barré

Pleocitose neutrofílica em pacientes com polirradiculopatia por CMV, possivelmente simulando meningite bacteriana

Encefalite focal aguda ou subaguda

Toxoplasma gondii (toxoplasmose)

TC ou RM para verificar lesões com realce em anel, especialmente as próximas nos gânglios basais

Teste de anticorpos do líquido cefalorraquidiano (sensível, mas não específico)

Testes de PCR para DNA de T. gondii no líquido cefalorraquidiano

Biópsia cerebral (raramente indicada)

Pirimetamina, ácido folínico, sulfadiazina e, possivelmente, sulfametoxazol/trimetoprima, SMX-TMP, cotrimoxazol (clindamicina se for alérgico à sulfa, ver Toxoplasmose: tratamento de pacientes com aids ou outras doenças imunocomprometedoras)

Frequentemente, terapia de manutenção por toda a vida

Profilaxia primária com clindamicina e pirimetamina ou sulfametoxazol/trimetoprima, (SMX-TMP), Cotrimoxazol (como para pneumonia por Pneumocystis ) indicada para pacientes com contagem de CD4 < 100/mcL e toxoplasmose prévia ou anticorpos positivos; pode ser interrompida se as contagens de CD4 diminuírem para > 200/mcL por ≥ 3 meses em resposta à terapia antirretroviral

Encefalite subaguda

CMV

Menos frequentemente, herpes-vírus simples ou vírus da varicela zóster

PCR no líquido cefalorraquidiano

Resposta ao tratamento

Fármacos antivirais

CMV com frequência apresenta-se acompanhado por delirium, paralisia de par craniano, mioclonia, convulsões e consciência progressivamente comprometida

Em geral, responde rapidamente ao tratamento

Mielite ou polirradiculopatia

CMV

RM da medula espinal

PCR no líquido cefalorraquidiano

Fármacos antivirais

Simula a síndrome de Guillain-Barré

Encefalite progressiva de substância branca somente

Leucoencefalopatia multifocal progressiva por causa da reativação da infecção pelo vírus JC latente

HIV

RM do cérebro

Exame de líquido cefalorraquidiano

Antirretrovirais para reverter a imunodeficiência (nenhum fármaco é eficaz para o vírus JC)

Em geral, fatal em poucos meses

Pode responder aos antirretrovirais

Meningite subaguda

Coccidioidomicose, Cryptococcus (criptococcose), Histoplasma (histoplasmose) ou Mycobacterium tuberculosis

TC ou RM

Colorações do líquido cefalorraquidiano, testes de antígeno, PCR, e cultura

Tratamento da causa

Melhores resultados com tratamento precoce

Neuropatia periférica

Efeitos diretos do HIV ou do CMV, toxicidade do fármaco antiviral

História

Avaliação sensorial e motora

Tratamento do agente causal ou suspensão do fármaco tóxico

Muito comum

Não é rapidamente reversível

Oftalmológica

Retinite

CMV ou VZV

Retinoscopia direta

Fármacos anti-CMV ou anti-VZV específicos

Requer exame por especialista

O VZV causa necrose retiniana aguda em alguns pacientes com HIV em estágio terminal

Oral

Candidíase oral

Imunossupressão pelo HIV

Exame

Antifúngicos sistêmicos

Pode ser indolor nas fases iniciais

Infecções pela varíola M (ex-varíola dos macacos)

Vírus da varíola M (ex-varíola dos macacos)

Exame

PCR do líquido coletados das vesículas

Fármacos antivirais

Uma erupção cutânea vesicular dolorosa pode começar na boca e então se espalhar

Alta incidência em homens que fazem sexo com homens†

Úlceras intraorais

Herpes-vírus simples ou estomatite aftosa

Exame

Para úlceras aftosas, corticoides intralesionais ou sistêmicos e montelucaste e talidomida sistêmicos

Para herpes, aciclovir

Pode ser grave e resultar em desnutrição

Doença periodontal

Flora bacteriana oral mista

Exame

Melhora da higiene e da nutrição

Antibióticos

Pode ser grave, com sangramento, edema e perda de dentes

Massa intraoral indolor

Sarcoma de Kaposi, linfoma ou tumores induzidos pelo HPV

Biópsia

Tratamento da neoplasia

Placas filiformes brancas e indolores na borda da língua (leucoplaquia pilosa oral)

vírus de Epstein-Barr Virus (VEB)

Exame

Aciclovir

Em geral, assintomático

Pulmonar

Pneumonia subaguda (ocasionalmente aguda)

Micobactérias

Fungos como P. jirovecii, C. neoformans, H. capsulatum, Coccidioides immitis ou Aspergillosis

Oximetria de pulso

Radiografia de tórax

Testes cutâneos (podem ser falso-negativos em razão da anergia)

Broncoscopia com colorações especiais e culturas das amostras do lavado broncoalveolar algumas vezes é necessária

Tratamento da causa

Possivelmente tosse, taquipneia e desconforto torácico na apresentação

Hipóxia leve ou gradiente de oxigênio alvéolo-arterial aumentado pode ocorrer antes de evidência da pneumonia na radiografia

Pneumonia aguda (ocasionalmente subaguda)

Patógenos típicos, ou Haemophilus, Pseudomonas, Nocardia, ou Rhodococcus

Em pacientes sabidamente com HIV ou com suspeita e pneumonia, patógenos oportunistas ou não habituais são excluídos

Tratamento da causa

Possivelmente tosse, taquipneia e desconforto torácico na apresentação

Traqueobronquite

Candida spp. ou vírus do herpes simples (HSV)

Tratamento da causa

Possivelmente tosse, taquipneia e desconforto torácico na apresentação

Pneumonia subaguda ou crônica ou adenopatia mediastinal

Sarcoma de Kaposi ou linfoma de células B

TC do tórax

Broncoscopia

Tratamento da causa

Possivelmente tosse, taquipneia e desconforto torácico na apresentação

Renal

Síndrome nefrótica ou insuficiência renal

Lesão viral direta, resultando em glomeruloesclerose focal

Biópsia renal

Fármacos antirretrovirais ou inibidores da ECA possivelmente úteis

Incidência aumentada em afro-americanos e pacientes com contagem diminuída de CD4

Disfunção tubular (glicosúria, proteinúria)

Alguns fármacos antivirais

Testes de urina e/ou sangue

Redução da dose ou suspensão do antiviral

Pele

Herpes-zóster

Vírus da varicela-zóster (VVZ)

Avaliação clínica

Testes baseados em PCR

Teste de DNA em raspados de lesões vesiculares da pele que ainda não tenham crostas

Cultura (melhor se feita em vesículas abertas ou que se romperam recentemente)

Aciclovir ou fármacos relacionados

Comum

Possível pródromo com dor ou formigamento leve a intenso antes das lesões de pele

Os testes baseados em PCR são mais sensíveis

Úlceras por herpes simples

Herpes simplex virus (HSV)

Avaliação clínica

Teste de úlcera por PCR

Cultura de HSV de uma úlcera

Fármacos antivirais, se as lesões forem graves, extensas, persistentes, ou disseminadas

Lesões atípicas de herpes simples que sejam extensas, graves, ou persistentes

Os testes baseados em PCR são mais sensíveis

Escabiose

Sarcoptes scabiei

Avaliação clínica e raspados

Ver Escabiose: tratamento

Pode produzir lesões hiperceratóticas graves

Exantema vesicular doloroso

Vírus da varíola M (ex-varíola dos macacos)

Exame

PCR do líquido obtido de vesículas, pústulas e/ou crostas secas

Fármacos antivirais

O exantema pode se disseminar

Linfadenopatia é comum

Nódulos ou pápulas violáceos ou vermelhos

Sarcoma de Kaposi ou bartonelose

Biópsia

Antirretrovirais e tratamento da causa

Lesões cutâneas centralmente umbilicadas

Criptococose ou molusco contagioso

Ver Molusco contagioso: diagnóstico e Criptococose: diagnóstico

Criptococose: tratamento

Podem ser os sinais de apresentação de criptococcemia

Sistêmico

Sepse e choque séptico devido a infecções hospitalares por bacilos Gram-negativos e infecções estafilocócicas, infecções oportunistas disseminadas

Bacilos Gram-negativos, Staphylococcus aureus, Candida, Salmonella, M. tuberculosis, MAC ou H. capsulatum

Hemoculturas

Exame da medula óssea

Tratamento da causa

Síndrome consumptiva (perda ponderal substancial)

Multifatorial, incluindo aids, infecções oportunistas relacionadas com a aids, neoplasias relacionadas com a aids e/ou hipogonadismo induzido pela aids

Definida como perda ponderal de > 10% do peso corporal

Antirretrovirais (o principal tratamento para essa síndrome)

Tratamento das infecções subjacentes; tratamento do hipogonadismo induzido pela aids quando indicado

Medidas para melhorar o apetite e a ingestão calórica

HC = hemograma completo; CMV = citomegalovírus; LCR = líquido cefalorraquidiano; HPV = papilomavírus humano; IGIV = imunoglobulina IV; MAC = complexo Mycobacterium avium; PCR = reação em cadeia da polimerase; PTT = tempo parcial de tromboplastina; TB = tuberculose; SMX/TMP = sulfametoxazol/trimetoprima; VZV = vírus da varicela-zóster.

* Fármacos antirretrovirais sempre fazem parte do plano de tratamento. São listados nesta seção sobre tratamento somente quando não há um tratamento mais específico.

† Esses diagnósticos são substitutos dos comportamentos que aumentam o risco de infecção pelo HIV; quando presentes, esses diagnósticos indicam a necessidade de realizar testes de HIV.