Queimaduras oculares

PorAnn P. Murchison, MD, MPH, Wills Eye Hospital
Revisado/Corrigido: mai. 2022
Visão Educação para o paciente

Queimaduras oculares podem ocorrer após lesões térmicas ou químicas e podem resultar em complicações graves, incluindo cegueira permanente.

(Ver também Visão geral das lesões oculares.)

Queimaduras térmicas

O reflexo de piscar geralmente faz os olhos fecharem em resposta a um estímulo térmico. Dessa forma, queimaduras térmicas tendem a afetar a pálpebra em vez da conjuntiva ou córnea. As queimaduras de pálpebras devem ser limpas cuidadosamente com soro fisiológico isotônico estéril seguido da aplicação de pomada antibacteriana oftálmica (p. ex., bacitracina duas vezes ao dia).

Muitas queimaduras térmicas que afetam a conjuntiva ou córnea são leves e cicatrizam sem sequelas significativas. São tratadas com analgésicos por via oral (paracetamol com ou sem oxicodona), midriáticos cicloplégicos (p. ex., homatropina a 5% 4 vezes ao dia) e antibióticos oftálmicos tópicos (p. ex., pomada de bacitracina/polimixina B ou pomada de ciprofloxacina a 0,3% 4 vezes ao dia durante 3 a 5 dias).

Queimaduras químicas

Queimaduras químicas da córnea e da conjuntiva representam 11% a 22% dos traumas oculares e podem ser graves, particularmente quando estão envolvidos ácidos fortes ou álcalis. Queimaduras alcalinas causam necrose por liquefação, enquanto queimaduras ácidas causam necrose por coagulação. Por causa dessa diferença, as queimaduras alcalinas têm penetração mais profunda e tendem a ser mais graves do que as queimaduras ácidas.

Dicas e conselhos

  • Queimaduras químicas da córnea e conjuntiva são uma emergência real; o tratamento deve começar imediatamente.

Deve-se irrigar abundantemente as queimaduras químicas assim que possível. O olho pode ser anestesiado com uma gota de proparacaína 0,5%, mas a irrigação não deve ser protelada e deve durar pelo menos 30 minutos. Uma solução hipertônica, como solução tampão de borato, pode ser mais eficaz do que outras soluções de irrigação comumente utilizadas na correção do pH intraocular, enquanto o soro fisiológico normal (solução isotônica estéril com pH de 7,4) é mais bem tolerado pelos pacientes possibilitando um tempo de irrigação mais longo. Mas pode-se utilizar tanto soro fisiológico quanto água para evitar atrasos na irrigação. Pode-se facilitar a irrigação utilizando uma lente de irrigação colocada sob as pálpebras, embora isso possa ser mais irritante para alguns pacientes do que a irrigação sem uma lente. Nas queimaduras ácidas e alcalinas, alguns especialistas sugerem pelo menos 30 minutos de irritação inicial com 1 a 2 L; a maioria dos especialistas recomenda irrigação até o pH da conjuntiva alcançar o intervalo normal de 7,0 a 7,2 (utilizando papel de pH expandido).

Após irrigação, os fórnices conjuntivais devem ser examinados para produtos químicos embebidos no tecido e devem ser limpos com um swab para remover partículas capturadas. Os fórnices superiores são expostos utilizando-se eversão palpebral dupla (isto é, primeiro realizando a eversão da pálpebra e depois inserindo um swab debaixo dela e erguendo-a até que o fórnice seja visível).

Queimaduras químicas leves são geralmente tratadas com antibióticos oftálmicos tópicos (p. ex., pomada de eritromicina a 0,5%) 4 vezes ao dia e cicloplegia, se necessário, para alívio (p. ex., ciclopentolato). Como corticoides tópicos podem causar perfuração da córnea após queimaduras químicas, eles só devem ser administrados por um oftalmologista. Anestésicos tópicos devem ser evitados após o início da irrigação; a dor importante pode ser tratada com paracetamol, com ou sem oxicodona. Se a função renal do paciente não está prejudicada, pode-se utilizar vitamina C oral (2 g, 4 vezes ao dia, em adultos) para ajudar na síntese do colágeno. Também pode-se utilizar doxiciclina oral em pacientes com indicação de estabilizar o colágeno, mas ambas as práticas devem ser aplicadas mediante parecer oftalmológico. Colírios de citrato, para diminuir a atividade proteolítica, e colírios plasmáticos ricos em plaquetas também podem ajudar na cicatrização e devem ser administrados apenas após consulta com um oftalmologista.

Queimaduras químicas graves exigem tratamento por um oftalmologista para salvar a visão e prevenir complicações como cicatrizes corneanas, perfuração do globo ocular e deformidades das pálpebras; queimaduras químicas graves podem exigir procedimentos cirúrgicos, além de tratamentos médicos. Pacientes com visão prejudicada grave, áreas avasculares da conjuntiva ou perda do epitélio conjuntival ou da córnea como demonstrado pela coloração com fluoresceína, devem ser examinados por um oftalmologista o mais rápido possível e não mais que 24 horas após a exposição.

Suspeita-se de irite química em pacientes com fotofobia (profunda dor no olho quando exposto a luz) que se desenvolve horas ou dias após uma queimadura química e é diagnosticada quando há flares e leucócitos na câmara anterior durante o exame com lâmpada de fenda. A irite química é tratada instilando-se um ciclopégico de longa duração (p. ex., uma simples dose de solução de homatropina a 2 ou 5% ou escopolamina a 0,25%).

Pontos-chave

  • Queimaduras térmicas tendem a afetar a pálpebra, enquanto queimaduras químicas tendem a afetar a pálpebra, conjuntiva e córnea.

  • Tratar queimaduras térmicas com antimicrobianos tópicos, midriáticos cicloplégicos (se a conjuntiva ou a córnea estão afetadas) e analgésicos orais.

  • A irrigação rápida e abundante é crucial após uma queimadura química; uma solução tampão de borato ou soro fisiológico balanceado são as melhores, mas qualquer soro fisiológico ou água estéril pode ser utilizada.

  • Prescrever antibióticos tópicos e midriáticos cicloplégicos após a irrigação de uma queimadura química.

  • Para queimaduras moderadas ou graves, consultar um oftalmologista para indicação de tratamentos adicionais.

Informações adicionais

Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Sharma N, Kaur M, Agarwal T, et al: Treatment of acute ocular chemical burns. Surv Ophthalmol 63(2):214-235, 2018. doi:10.1016/j.survophthal.2017.09.005

  2. Baradaran-Rafii A, Eslani M, Haq Z, Shirzadeh E, et al: Current and upcoming therapies for ocular surface chemical injuries. Ocul Surf 15(1):48-64, 2017. doi:10.1016/j.jtos.2016.09.002

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