Proteinose alveolar pulmonar

PorJoyce Lee, MD, MAS, University of Colorado School of Medicine
Revisado/Corrigido: jul. 2023
Visão Educação para o paciente

A proteinose alveolar pulmonar é o acúmulo de surfactante nos alvéolos. A etiologia é quase sempre desconhecida. Os sintomas são dispneia, fadiga e mal-estar. O diagnóstico baseia-se no lavado broncoalveolar, embora ocorram anormalidades características na radiografia e nos exames laboratoriais. O tratamento é com lavagem pulmonar total ou, em alguns casos, fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos recombinantes. A sobrevida em 5 anos é de cerca de 80% com o tratamento.

Etiologia da proteinose alveolar pulmonar

Com frequência, a proteinose alveolar pulmonar é idiopática e ocorre em homens e mulheres aparentemente sadios entre 30 e 50 anos de idade. Formas secundárias raras ocorrem em pacientes com

Também existem formas congênitas raras que causam insuficiência respiratória neonatal.

Não está esclarecido se os casos idiopáticos e secundários compartilham fisiopatologia comum.

Fisiopatologia da proteinose alveolar pulmonar

Admite-se que o processamento indevido de surfactante do macrófago alveolar decorrente da sinalização anormal do fator estimulador de colônias de granulócitos e monócitos (GM-CSF) contribua para a enfermidade, talvez em virtude da redução ou da ausência de função da cadeia beta comum do receptor de GM-CSF/interleucina (IL)-13/IL-5 das células mononucleares (observado em algumas crianças, mas não em adultos com a doença). Anticorpos anti-GM-CSF também foram encontrados na maioria dos pacientes. Suspeita-se de lesão tóxica dos pulmões, mas não há comprovação nas causas inalatórias secundárias, como silicoproteinose.

Os alvéolos encontram-se preenchidos por surfactante lipoproteináceo acelular positivo para ácido periódico de Schiff (PAS, periodic acid-Schiff). As células alveolares e intersticiais permanecem normais. Os segmentos pulmonares posterobasais são os mais comprometidos. A pleura e o mediastino não são afetados.

Sinais e sintomas da proteinose alveolar pulmonar

A maioria dos pacientes com proteinose alveolar pulmonar desenvolve dispneia progressiva durante o esforço, perda ponderal, fadiga, mal-estar ou febre baixa. Ocorre tosse, que ocasionalmente provoca expectoração grossa ou viscosa, mas é menos comum. Baqueteamento dos dedos e cianose são incomuns. Estertores inspiratórios são raros porque os alvéolos estão preenchidos com líquido; quando existem estertores, eles sugerem infecção.

Diagnóstico da proteinose alveolar pulmonar

  • Lavado broncoalveolar

  • Às vezes, biópsia

A proteinose alveolar pulmonar é usual e primeiramente presumida quando se obtém radiografia de tórax em decorrência de sintomas respiratórios inespecíficos. A radiografia revela opacidades em campos pulmonares médios e inferiores bilateralmente, com distribuição em borboleta e hilos normais.

O diagnóstico requer lavado broncoalveolar, com ou sem biopsia transbrônquica. O líquido do lavado é leitoso ou opaco e é positivo para coloração com ácido periódico-Schiff (APS). O líquido é caracterizado por macrófagos dispersos e repletos de surfactante, aumento de células T e níveis elevados do surfactante apoproteína-A.

Efetua-se biópsia pulmonar aberta ou por toracoscopia quando há contraindicação à broncoscopia ou quando as amostras do líquido do lavado não são diagnósticos. Os testes normalmente feitos antes do início do tratamento incluem

  • Amostra da gasometria arterial

  • TC de alta resolução (TCAR)

  • Exames laboratoriais

  • Testes de função pulmonar

As gasometrias arteriais podem revelar hipoxemia durante esforço leve a moderado ou em repouso, se a doença for mais grave.

A TCAR revela opacificação em vidro fosco, espessamento de estruturas intralobulares e septos interlobulares em formatos poligonais típicos (“pavimentação irregular”). Entretanto, esse achado não é específico, uma vez que também pode ocorrer em pacientes com a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), pneumonia viral, pneumonia lipoide, carcinoma de células broncoalveolares e pneumonia por Pneumocystis jirovecii.

Os testes de função pulmonar revelam redução da DLCO desproporcional à diminuição da capacidade vital do volume residual, da capacidade residual funcional e da capacidade pulmonar total.

Anormalidades nos testes laboratoriais incluem policitemia, hipergamaglobulinemia, aumento dos níveis de lactato desidrogenase (LDH) sérica e das proteínas séricas surfactantes A e D. As anormalidades são sugestivas, mas não são diagnósticas. Exames laboratoriais para anticorpos contra o fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos (GM-CSF) e níveis séricos de GM-CSF podem ajudar a apoiar o diagnóstico da proteinose alveolar pulmonar.

Tratamento da proteinose alveolar pulmonar

  • Lavagem pulmonar total

O tratamento da proteinose alveolar pulmonar é desnecessário para pacientes assintomáticos ou para aqueles apenas com sintomas leves.

Efetua-se lavagem pulmonar total em pacientes com dispneia incapacitante, utilizando-se anestesia geral e tubo endotraqueal com luz dupla. Lava-se um pulmão até 15 vezes, com 1 a 2 L de soro fisiológico, enquanto o outro pulmão é ventilado. Em seguida, inverte-se o procedimento.

O transplante de pulmão não é feito com frequência porque a doença reaparece no pulmão transplantado.

Os corticoides sistêmicos não têm qualquer papel no tratamento e podem elevar o risco de infecção secundária. O papel do GM-CSF (inalação ou subcutâneo) no tratamento ainda precisa ser determinado. Um estudo multicêntrico e autocontrolado de fase 2 em nove centros pulmonares no Japão mostrou uma taxa de resposta geral de 62% (24/39) (1).

Referência sobre o tratamento

  1. 1. Tazawa R, Trapnell BC, Inoue Y, et al. Inhaled granulocyte/macrophage-colony stimulating factor as therapy for pulmonary alveolar proteinosis. Am J Respir Crit Care Med 2010;181(12):1345-1354. doi:10.1164/rccm.200906-0978OC

Prognóstico para proteinose alveolar pulmonar

Sem tratamento, a proteinose alveolar pulmonar regride de modo espontâneo em até 10% dos pacientes (1). Quando os pacientes são tratados com lavagem pulmonar total, a taxa de sobrevida em 5 anos é de 95% (1).

Ocasionalmente, desenvolvem-se infecções pulmonares secundárias por bactérias (p. ex., Mycobacteria, Nocardia) e por outros organismos (p. ex., Aspergillus, Cryptococcus e outros fungos oportunistas) por causa da função prejudicada dos macrófagos; essas infecções exigem tratamento.

Referência sobre prognóstico

  1. 1. Carrington JM, Hershberger DM. Pulmonary Alveolar Proteinosis. [Atualizado 25/07/2022]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482308/

Pontos-chave

  • Considerar proteinose alveolar pulmonar em pacientes normalmente saudáveis entre 30 e 50 anos se a radiografia revela opacidades em campos pulmonares médios e inferiores bilateralmente, com distribuição em borboleta e hilos normais.

  • Fazer um lavado broncoalveolar e exames laboratoriais; se contraindicado ou quando os resultados não forem diagnósticos, realizar biópsia pulmonar.

  • Se a dispneia for moderada ou grave, tratar com lavagem pulmonar total.

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