O transtorno de estresse agudo e o transtorno de estresse pós-traumático são reações a eventos traumáticos. As reações envolvem pensamentos ou sonhos intrusivos, esquiva de lembranças do evento e efeitos negativos sobre o humor, cognição, excitação e reatividade. O transtorno de estresse agudo tipicamente começa imediatamente após o trauma e dura de 3 dias a 1 mês. O transtorno de estresse pós-traumático pode ser uma continuação do transtorno de estresse agudo ou pode se manifestar 6 meses após o trauma e durar > 1 mês. O diagnóstico é por critérios clínicos. O tratamento consiste em terapia comportamental e, às vezes, com ISRS ou antiadrenérgicos.
(Ver também Transtorno de estresse agudo e Transtorno de estresse pós-traumático em adultos.)
Transtorno de estresse agudo e transtorno do estresse pós-traumático são transtornos relacionados a trauma e estresse. Costumavam ser considerados transtornos de ansiedade, mas agora são transtornos distintos porque muitos pacientes não têm ansiedade, mas, em vez disso, têm outros sintomas.
Como existem diferenças na vulnerabilidade e temperamento das crianças, nem todas as que passaram por eventos traumáticos graves irão desenvolver o distúrbio. Eventos traumáticos geralmente associados a estes distúrbios incluem assaltos, agressões sexuais, acidentes de carro, ataques de cães e lesões (especialmente queimaduras). Nas crianças pequenas a violência doméstica é a causa mais comum de transtorno do estresse pós-traumático.
Em crianças com 6 anos ou menos, a experiência direta do evento traumático é necessária. Crianças a partir dos 6 anos não precisam vivenciar diretamente o evento traumático; podem desenvolver um transtorno de estresse se testemunharem um evento traumático acontecendo com os outros (mesmo por exposição por meio da imprensa; 1) ou entenderem que um ocorreu a um familiar próximo.
Referência geral
1. Comer JS, Kendall PC: Terrorism: The psychological impact on youth. Clin Psychol 14:179-212, 2007.
Sinais e sintomas
Os sintomas do transtorno de estresse agudo e transtorno do estresse pós-traumáticosão semelhantes e geralmente envolvem uma combinação dos seguintes:
Sintomas intrusivos: sonhos ou memórias recorrentes, involuntários e angustiantes do evento traumático (em crianças < 6 anos, pode não ser claro se os sonhos perturbadores estão relacionados ao evento); reações dissociativas, (tipicamente flashbacks em que os pacientes revivem o trauma, embora as crianças possam frequentemente reviver o evento em uma brincadeira); e aflições quanto a indícios internos ou externos que lembram algum aspecto do trauma (p. ex., ver um cão ou alguém parecido com um agressor)
Sintomas de esquiva: esquiva persistente de memórias, sentimentos ou lembranças externas do trauma
Efeitos negativos sobre a cognição e/ou humor: incapacidade de lembrar aspectos importantes do evento traumático, pensamento distorcido sobre as causas e/ou consequências do trauma (p. ex., que eles são culpados ou poderiam ter evitado o evento tomando certas ações), diminuição nas emoções positivas e aumento nas emoções negativas (medo, culpa, tristeza, vergonha, confusão), falta de interesse geral, afastamento social, sensação subjetiva de entorpecimento e baixa expectativa quanto ao futuro (p. ex., pensar "eu não vou viver para ver meus 20 anos")
Excitação e/ou reatividade alterada (p. ex., hiperexcitação): nervosismo, resposta de sobressalto exagerada, dificuldade para relaxar, dificuldade de concentração, sono perturbado (às vezes com pesadelos frequentes) e comportamento agressivo ou imprudente
Sintomas dissociativos: sentir-se separado do próprio corpo como se estivesse em um sonho e sentir que o mundo é irreal
Crianças com transtorno de estresse agudo estão em estado de deslumbre e podem parecer dissociadas do dia a dia em sua volta.
Crianças com transtorno de estresse pós-traumático têm recordações intrusivas que fazem com que revivam o evento traumático. O tipo mais dramático de lembrança é o flashback. Este último pode ser espontâneo, mas, geralmente, é acionado por algo associado ao trauma original. Por exemplo, a visão de um cachorro pode acionar a lembrança do ataque de um cão. Durante este acontecimento, a criança pode ficar em estado de pavor, insegura do lugar onde está enquanto busca desesperadamente um caminho para se esconder ou escapar, perdendo temporariamente contato com a realidade e acreditando estar em grave perigo. Algumas crianças têm pesadelos. Com outros tipos de experiências (p. ex., pensamentos, imagens mentais, lembranças), estas crianças mantêm o conhecimento do que as está envolvendo, embora até possam ficar muito tensas.
Diagnóstico
Avaliação psiquiátrica
Critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR)
Os diagnósticos de transtorno de estresse agudo e transtorno do estresse pós-traumáticosão baseados na história de exposição à gravidade dos medos e horror traumático, confusão emocional e hiperexcitação que se seguem às lembranças. Estes sintomas podem ser suficientemente graves para provocar um desgaste ou distúrbio.
Sintomas que duram ≥ 3 dias e < 1 mês são considerados transtornos de estresse agudo. Sintomas que duram > 1 mês são considerados transtorno do estresse pós-traumático, que pode ser uma continuação do transtorno de estresse agudo ou pode se manifestar até 6 meses após o trauma.
Tratamento
Psicoterapias focadas no trauma
Psicoterapia de apoio
Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e, às vezes, antiadrenérgicos
Relatou-se que psicoterapias focadas no trauma são eficazes em crianças com transtorno de estresse pós-traumático (1–4). A psicoterapia focada no trauma envolve intervenções de curto prazo que utilizam técnicas cognitivo-comportamentais para modificar o pensamento distorcido, as reações negativas e o comportamento. Também pode incluir ensinar aos pais técnicas de redução do estresse e habilidades de comunicação.
A psicoterapia pode ajudar nos problemas associados aos traumas como a desfiguração provocada pelas queimaduras. A terapia comportamental pode ser útil para uma dessensibilização sistemática contra os desencadeantes dos sintomas devido às lembranças (terapia de exposição). A terapia comportamental é claramente eficaz para reduzir a angústia e o desajuste em crianças e adolescentes com transtorno do estresse pós-traumático.
Não há medicamentos aprovados para o transtorno do estresse pós-traumático em crianças porque ensaios clínicos adequados ainda precisam ser realizados. Entretanto, em jovens com ansiedade, depressão e dificuldades para dormir comórbidas, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) podem ser úteis (5).
Os antiadrenérgicos [p. ex., clonidina, guanfacina (6), prazosina (7)] podem ajudar nos sintomas de hiperexcitabilidade, mas dados de apoio devem ser preliminares.
Referências sobre o tratamento
1. Kowalik J, Weller J, Venter J, et al: Cognitive behavioral therapy for the treatment of pediatric posttraumatic stress disorder: A review and meta-analysis. J Behav Ther Exp Psychiatry 42(3):405-413, 2011. doi: 10.1016/j.jbtep.2011.02.002
2. Kataoka SH, Stein BD, Jaycox LH, et al: A school-based mental health program for traumatized Latino immigrant children. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 42(3):311-318, 2003. doi: 10.1097/00004583-200303000-00011
3. McMullen J, O'Callaghan P, Shannon C, et al: Group trauma-focused cognitive-behavioural therapy with former child soldiers and other war-affected boys in the DR Congo: A randomised controlled trial. J Child Psychol Psychiatry54(11):1231-1241, 2013. doi: 10.1111/jcpp.12094
4. Deblinger E, Steer RA, Lippmann J: Two-year follow-up study of cognitive behavioral therapy for sexually abused children suffering post-traumatic stress symptoms. Child Abuse Negl 23(12):1371-1378, 1999. doi: 10.1016/s0145-2134(99)00091-5
5. Strawn JR, Keeshin BR, DelBello MP, et al: Psychopharmacologic treatment of posttraumatic stress disorder in children and adolescents: A review. J Clin Psychiatry 71(7):932-941, 2010. doi: 10.4088/JCP.09r05446blu
6. Connor DF, Grasso DJ, Slivinsky MD, et al: An open-label study of guanfacine extended release for traumatic stress related symptoms in children and adolescents. J Child Adolesc Psychopharmacol 23(4):244-251, 2013. doi: 10.1089/cap.2012.0119
7. Keeshin BR, Ding Q, Presson AP, et al: Use of prazosin for pediatric PTSD-associated nightmares and sleep disturbances: A retrospective chart review. Neurol Ther 6(2):247-257, 2017. doi: 10.1007/s40120-017-0078-4
Prognóstico
O prognóstico é muito melhor para crianças com transtorno de estresse agudo do que aquelas com transtorno do estresse pós-traumático, mas ambas se beneficiam do tratamento precoce.
Os fatores de risco incluem (1)
Gravidade do trauma
Lesões físicas associadas
Resiliência e temperamento subjacentes das crianças e familiares
Status socioeconômico
Adversidade durante a infância (ver Adverse Childhood Experience (ACE) Response)
Disfunção familiar
Status minoritário
História psiquiátrica familiar
Apoio familiar e social antes e após o trauma abranda o desfecho final.
Referência sobre prognóstico
1. Trickey D, Siddaway AP, Meiser-Stedman R, et al: A meta-analysis of risk factors for post-traumatic stress disorder in children and adolescents. Clin Psychol Rev 32(2):122-138, 2012. doi: 10.1016/j.cpr.2011.12.001
Pontos-chave
O transtorno de estresse agudo costuma começar logo após o trauma e dura 3 dias a 1 mês; transtorno do estresse pós-traumáticodura > 1 mês e pode ser uma continuação do transtorno de estresse agudo ou pode se manifestar até 6 meses após o trauma.
Transtornos de estresse podem começar depois que as crianças experimentam diretamente um evento traumático, se elas testemunharem o evento ou entenderem que o evento aconteceu com um membro próximo da família.
Os sintomas do transtorno de estresse agudo e transtorno do estresse pós-traumático são semelhantes e geralmente envolvem uma combinação de sintomas intrusivos (p. ex., reviver o evento), sintomas de esquiva, efeitos negativos sobre a cognição e/ou humor (p. ex., entorpecimento emocional), excitação e/ou reatividade alterada e sintomas dissociativos.
Tratar com psicoterapia focada no trauma e, em crianças com ansiedade, depressão e dificuldades para dormir comórbidas, ISRS; às vezes, medicamentos antiadrenérgicos podem ser úteis.