A otite média crônica é definida amplamente como efusão do ouvido médio por mais de três meses ou como vazamento recorrente de secreções do ouvido em caso de perfuração da membrana timpânica, condição conhecida também como otite média purulenta crônica. Os critérios geralmente aceitos para otite média são três infecções em seis meses ou quatro em doze meses. Globalmente, estima-se que a otite média crônica afeta 31 milhões de pessoas por ano, com crianças de menos de cinco anos de idade representando aproximadamente um quinto delas (1).
A otite média crônica pode causar perda da audição e secreção auricular. Complicações incluem dano progressivo às estruturas da orelha média como resultado de pólipos auriculares, colesteatoma e outras infecções.
A otite média crônica em crianças é preocupante devido aos efeitos prejudiciais bem conhecidos de longo prazo da perda da audição sobre o desenvolvimento linguístico, cognitivo e psicossocial (2). Diretrizes da Academia Americana de Pediatria afirmam que “a otite média pode apresentar relação com dificuldades na fala e leitura, atraso na resposta a estímulos auditivos, vocabulário limitado e alterações na atenção”.
Diagnóstico e tratamento de colesteatomas
O colesteatoma é um cisto que se forma no ouvido médio, mastoide ou epitímpano após a otite média crônica. Embora seja tecnicamente benigno, ele é localmente invasivo e pode danificar as estruturas do ouvido médio. Colesteatomas são ocasionalmente observados durante a otoscopia como uma massa branca atrás do tímpano.
Como o colesteatoma pode resultar em perda auditiva permanente e outras sequelas graves, tais como abcesso intracraniano, os médicos devem ficar atentos para essa complicação, especialmente quando a otorreia não cessa apesar do tratamento antimicrobiano direcionado à cultura. Nesses casos, há necessidade de exames de imagem ou avaliação sob anestesia se a otoscopia de rotina não acusar suspeitas.
Uma TAC é usualmente necessária para determinar a extensão total do colesteatoma, e normalmente é necessário realizar um audiograma para determinar o impacto do cisto sobre a audição.
É importante observar que os colesteatomas continuarão crescendo lentamente se não forem removidos. Em um espaço tão pequeno quanto o ouvido médio, mesmo esse crescimento lento pode resultar em consequências devastadoras se não for controlado adequadamente. É melhor limitar o dano removendo o colesteatoma e reconstruir o ouvido médio para preservação da audição, se possível.
A reconstrução auditiva pode se fazer necessária se a remoção cirúrgica do colesteatoma exigir o sacrifício dos ossículos (ossos da audição) devido à lesão envolvendo essas estruturas.
Diálogo com pacientes sobre a otite média crônica
Ao conversar com pacientes sobre a otite média crônica e suas complicações, é crucial estabelecer expectativas realistas referentes ao grau da doença e à provável resposta ao tratamento. Quando falar sobre colesteatomas, os médicos devem enfatizar que, embora a massa não seja maligna, ela ainda pode causar danos graves ao ouvido e outras estruturas. Os médicos também podem recomendar que os pacientes leiam as páginas direcionadas à Saúde para a Família sobre otite média crônica nos Manuais.
Referências
- Monasta L, Ronfani L, Marchetti F, et al: Burden of disease caused by otitis media: systematic review and global estimates. PLoS ONE 7: e36226, 2012. doi.org/10.1371/journal.pone.0036226
- Bennett KE, Haggard MP, Silva PA, et al: Behavior and developmental effects of chronic otitis media with effusion into the teens. Archives of Disease in Childhood 85:91–95, 2001. doi: 10.1136/adc.85.2.91