Depressão pós-parto

PorJulie S. Moldenhauer, MD, Children's Hospital of Philadelphia
Revisado/Corrigido: abr. 2024
Visão Educação para o paciente

Depressão pós-parto consiste em sintomas depressivos que duram > 2 semanas após o parto e atendem os critérios para depressão maior.

A depressão pós-parto ocorre em 7% das mulheres durante o primeiro ano após o parto (1). Embora toda mulher esteja em risco, aquelas com as seguintes características estão em maior risco:

  • Tristeza pós-parto (p. ex., alterações rápidas no humor, irritabilidade, ansiedade, diminuição da concentração, insônia, crises de choro)

  • Episódio anterior de depressão pós-parto

  • Diagnóstico anterior para depressão

  • História familiar de depressão

  • Estressores significativos da vida (p. ex., conflitos de relacionamento, eventos estressantes no último ano, dificuldades financeiras, criação de filhos sem um dos parceiros, parceiro com depressão)

  • Falta de suporte do parceiro ou familiares (p. ex., suporte financeiro ou de cuidados da criança)

  • História de alterações no humor associadas temporalmente com ciclos menstruais ou uso de contraceptivos orais

  • Desfechos obstétricos anteriores ou atuais ruins (p. ex., aborto espontâneo prévio, parto prematuro, neonato internado em unidade de terapia intensiva, lactente com malformação congênita)

  • Ambivalência anterior ou contínua sobre a gestação atual (p. ex., porque não foi planejada ou a interrupção foi considerada)

  • Problemas com o aleitamento materno

A etiologia exata da depressão pós-parto é desconhecida; contudo, depressão prévia é o maior risco, e mudanças hormonais durante o puerpério, privação do sono e suscetibilidade genética podem contribuir.

A depressão transitória (melancolia pós-parto) é comum durante a primeira semana após o parto. Melancolia pós-parto geralmente dura 2 a 3 dias (até 2 semanas) e é relativamente leve; em comparação, a depressão pós-parto dura > 2 semanas e é incapacitante, interferindo nas atividades da vida diária.

Referência geral

  1. 1. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th ed, Text Revision (DSM-5-TR). American Psychiatric Association Publishing, Washington, DC, p 214

Sinais e sintomas da depressão pós-parto

Os sinais e sintomas da depressão pós parto podem são semelhantes àqueles da depressão maior e podem incluir

  • Tristeza extrema

  • Oscilações de humor

  • Choro incontrolável

  • Insônia ou aumento do sono

  • Perda de apetite ou comer em excesso

  • Irritabilidade e raiva

  • Cefaleia e dores no corpo

  • Fadiga extrema

  • Preocupações irrealistas sobre o lactente ou desinteresse

  • A sensação de ser incapaz de cuidar do lactente ou de não ser adequada no papel de mãe

  • Medo de machucar o lactente

  • Culpa em relação aos sentimentos dela

  • Ideação suicida

  • Ansiedade ou ataques de pânico

Tipicamente, os sintomas se desenvolvem insidiosamente ao longo de 3 meses, mas o início pode ser mais súbito. A depressão pós-parto interfere na capacidade materna de cuidar de si mesma e do lactente.

As mulheres podem não criar laços afetivos com o lactente, resultando em problemas emocionais, sociais e cognitivos na criança mais tarde.

Parceiros também podem ter maior risco de depressão, e a depressão em qualquer um dos pais pode resultar em estresse no relacionamento.

Sem tratamento, a depressão pós-parto pode se resolver espontaneamente ou tornar-se crônica. Os riscos de recorrência são de cerca de 1 em cada 3 a 4.

Outros potenciais transtornos psiquiátricos no período pós-parto incluem ansiedade e, raramente, psicose pós-parto.

Transtornos psiquiátricos não tratados pós-parto aumentam o risco de suicídio e infanticídio, que são as complicações mais graves.

Diagnóstico da depressão pós-parto

  • Avaliação clínica

  • Critérios para transtorno depressivo maior

O diagnóstico precoce e o tratamento da depressão pós-parto podem melhorar substancialmente os resultados para as mulheres e seus lactentes (1).

A depressão pós-parto é diagnosticada com base nos mesmos critérios do transtorno depressivo maior, que são ≥ 5 sintomas por > 2 semanas; sintomas incluem humor deprimido e/ou perda de interesse ou prazer e (2)

  • Perda ponderal significativa, perda de apetite ou ganho ponderal

  • Insônia ou hipersonia

  • Agitação ou retardo psicomotor

  • Sensação de inutilidade ou culpa

  • Diminuição da capacidade de concentração

  • Pensamentos homicidas ou suicidas (as mulheres devem ser questionadas especificamente sobre esses pensamentos)

Muitas mulheres têm melancolia ou tristeza pós- parto ("baby blues"), que pode incluir sintomas depressivos, mas não atende todos os critérios para depressão pós-parto.

Por causa de fatores culturais e sociais, as mulheres podem não relatar sintomas de depressão, assim os médicos devem perguntar a elas sobre esses sintomas antes e depois do parto. Além disso, deve-se ensinar como as mulheres podem reconhecer os sintomas de depressão, que podem ser confundidos com os efeitos normais da maternidade (p. ex., fadiga, dificuldade de se concentrar).

Na consulta pós-parto, deve-se rastrear todas as mulheres à procura de depressão pós-parto utilizando uma ferramenta de rastreamento validada. Essas ferramentas incluem a Escala de depressão pós-parto de Edimburgo (Edinburgh Postnatal Depression Scale) e a Escala de Rastreamento de Depressão pós-parto (2).

Sintomas depressivos como disforia, insônia, fadiga e diminuição da concentração podem estar presentes tanto na tristeza pós-parto como na depressão pós-parto. Entretanto, o diagnóstico de tristeza pós-parto não requer um número mínimo de sintomas, ao passo que a depressão pós-parto requer um mínimo de 5 sintomas. Além disso, os sintomas da tristeza pós-parto geralmente são autolimitados e desaparecem em 2 semanas após o início. Por outro lado, o diagnóstico de depressão pós-parto requer que os sintomas estejam presentes por > 2 semanas.

As pacientes também devem ser avaliados para transtornos de ansiedade.

Deve-se avaliar em pacientes com alucinações, delírios ou comportamento psicótico quanto à psicose pós-parto.

Referências sobre diagnóstico

  1. 1. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): Screening and Diagnosis of Mental Health Conditions During Pregnancy and Postpartum: ACOG Clinical Practice Guideline No. 4. Obstet Gynecol. 2023;141(6):1232-1261. doi:10.1097/AOG.0000000000005200

  2. 2. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th ed, Text Revision (DSM-5-TR). American Psychiatric Association Publishing, Washington, DC, pp 184-193

Tratamento da depressão pós-parto

  • Zuranolona ou bradanolanol

  • Outros antidepressivos

  • Psicoterapia

O tratamento da depressão pós-parto é feito com antidepressivos e psicoterapia. Dois medicamentos foram aprovados pela U.S. Food and Drug Administration especificamente para depressão pós-parto: bradanolanol administrado por via intravenosa e zuranolona administrado por via oral. Ambos são neuroesteroides que modulam os receptores GABA-A no cérebro (1, 2, 3).

Se a mulher tem ansiedade grave, pode-se tratá-la com ansiolíticos (4).

O tratamento da psicose pós-parto normalmente requer hospitalização psiquiátrica e medicamentos antipsicóticas.

Referências sobre o tratamento da depressão pós-parto

  1. 1. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): ACOG Practice Advisory: Zuranolone for the Treatment of Postpartum Depression. Last updated January 30, 2024: Update to Clinical Practice Guideline No. 5, Treatment and Management of Mental Health Conditions During Pregnancy and Postpartum, originally published 2023.

  2. 2. Deligiannidis KM, Meltzer-Brody S, Gunduz-Bruce H, et al: Effect of Zuranolone vs Placebo in Postpartum Depression: A Randomized Clinical Trial [published correction appears in JAMA Psychiatry. 2022 Jul 1;79(7):740] [published correction appears in JAMA Psychiatry. 2023 Feb 1;80(2):191]. JAMA Psychiatry. 2021;78(9):951-959. doi:10.1001/jamapsychiatry.2021.1559

  3. 3. Epperson CN, Rubinow DR, Meltzer-Brody S, et al: Effect of brexanolone on depressive symptoms, anxiety, and insomnia in women with postpartum depression: Pooled analyses from 3 double-blind, randomized, placebo-controlled clinical trials in the HUMMINGBIRD clinical program. J Affect Disord. 2023;320:353-359. doi:10.1016/j.jad.2022.09.143

  4. 4. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): ACOG Clinical Practice Guideline No. 5: Treatment and Management of Mental Health Conditions During Pregnancy and Postpartum. Obstet Gynecol. 2023;141(6):1262-1288. doi:10.1097/AOG.0000000000005202

Pontos-chave

  • A tristeza pós-parto é muito comum durante a primeira semana após o parto, geralmente dura 2 a 3 dias (até 2 semanas) e é relativamente leve.

  • A depressão pós-parto ocorre em 10 a 15% das mulheres após o parto, dura > 2 semanas e é incapacitante (em comparação com a tristeza pós-parto).

  • Os sintomas são semelhantes aos da depressão maior e também podem incluir ansiedade.

  • A depressão pós-parto pode resultar em efeitos adversos para a criança ou estresse no relacionamento.

  • Ensinar todas as mulheres a reconhecer os sintomas da depressão pós-parto e perguntar a elas sobre sintomas da depressão antes e após o parto.

  • Triagem formal de todas as mulheres à procura de transtornos de humor durante a consulta pós-parto.

  • Para obter os melhores resultados possíveis, identificar e tratar a depressão pós-parto o mais rápido possível.

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