Depressão pós-parto consiste em sintomas depressivos que duram > 2 semanas após o parto e atendem os critérios para depressão maior.
A depressão pós-parto ocorre em 7% das mulheres durante o primeiro ano após o parto (1). Embora toda mulher esteja em risco, aquelas com as seguintes características estão em maior risco:
Tristeza pós-parto (p. ex., alterações rápidas no humor, irritabilidade, ansiedade, diminuição da concentração, insônia, crises de choro)
Episódio anterior de depressão pós-parto
Diagnóstico anterior para depressão
História familiar de depressão
Estressores significativos da vida (p. ex., conflitos de relacionamento, eventos estressantes no último ano, dificuldades financeiras, criação de filhos sem um dos parceiros, parceiro com depressão)
Falta de suporte do parceiro ou familiares (p. ex., suporte financeiro ou de cuidados da criança)
História de alterações no humor associadas temporalmente com ciclos menstruais ou uso de contraceptivos orais
Desfechos obstétricos anteriores ou atuais ruins (p. ex., aborto espontâneo prévio, parto prematuro, neonato internado em unidade de terapia intensiva, lactente com malformação congênita)
Ambivalência anterior ou contínua sobre a gestação atual (p. ex., porque não foi planejada ou a interrupção foi considerada)
Problemas com o aleitamento materno
A etiologia exata da depressão pós-parto é desconhecida; contudo, depressão prévia é o maior risco, e mudanças hormonais durante o puerpério, privação do sono e suscetibilidade genética podem contribuir.
A depressão transitória (melancolia pós-parto) é comum durante a primeira semana após o parto. Melancolia pós-parto geralmente dura 2 a 3 dias (até 2 semanas) e é relativamente leve; em comparação, a depressão pós-parto dura > 2 semanas e é incapacitante, interferindo nas atividades da vida diária.
Referência geral
1. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th ed, Text Revision (DSM-5-TR). American Psychiatric Association Publishing, Washington, DC, p 214
Sinais e sintomas da depressão pós-parto
Os sinais e sintomas da depressão pós parto podem são semelhantes àqueles da depressão maior e podem incluir
Tristeza extrema
Oscilações de humor
Choro incontrolável
Insônia ou aumento do sono
Perda de apetite ou comer em excesso
Irritabilidade e raiva
Cefaleia e dores no corpo
Fadiga extrema
Preocupações irrealistas sobre o lactente ou desinteresse
A sensação de ser incapaz de cuidar do lactente ou de não ser adequada no papel de mãe
Medo de machucar o lactente
Culpa em relação aos sentimentos dela
Ideação suicida
Ansiedade ou ataques de pânico
Tipicamente, os sintomas se desenvolvem insidiosamente ao longo de 3 meses, mas o início pode ser mais súbito. A depressão pós-parto interfere na capacidade materna de cuidar de si mesma e do lactente.
As mulheres podem não criar laços afetivos com o lactente, resultando em problemas emocionais, sociais e cognitivos na criança mais tarde.
Parceiros também podem ter maior risco de depressão, e a depressão em qualquer um dos pais pode resultar em estresse no relacionamento.
Sem tratamento, a depressão pós-parto pode se resolver espontaneamente ou tornar-se crônica. Os riscos de recorrência são de cerca de 1 em cada 3 a 4.
Outros potenciais transtornos psiquiátricos no período pós-parto incluem ansiedade e, raramente, psicose pós-parto.
Transtornos psiquiátricos não tratados pós-parto aumentam o risco de suicídio e infanticídio, que são as complicações mais graves.
Diagnóstico da depressão pós-parto
Avaliação clínica
Critérios para transtorno depressivo maior
O diagnóstico precoce e o tratamento da depressão pós-parto podem melhorar substancialmente os resultados para as mulheres e seus lactentes (1).
A depressão pós-parto é diagnosticada com base nos mesmos critérios do transtorno depressivo maior, que são ≥ 5 sintomas por > 2 semanas; sintomas incluem humor deprimido e/ou perda de interesse ou prazer e (2)
Perda ponderal significativa, perda de apetite ou ganho ponderal
Insônia ou hipersonia
Agitação ou retardo psicomotor
Sensação de inutilidade ou culpa
Diminuição da capacidade de concentração
Pensamentos homicidas ou suicidas (as mulheres devem ser questionadas especificamente sobre esses pensamentos)
Muitas mulheres têm melancolia ou tristeza pós- parto ("baby blues"), que pode incluir sintomas depressivos, mas não atende todos os critérios para depressão pós-parto.
Por causa de fatores culturais e sociais, as mulheres podem não relatar sintomas de depressão, assim os médicos devem perguntar a elas sobre esses sintomas antes e depois do parto. Além disso, deve-se ensinar como as mulheres podem reconhecer os sintomas de depressão, que podem ser confundidos com os efeitos normais da maternidade (p. ex., fadiga, dificuldade de se concentrar).
Na consulta pós-parto, deve-se rastrear todas as mulheres à procura de depressão pós-parto utilizando uma ferramenta de rastreamento validada. Essas ferramentas incluem a Escala de depressão pós-parto de Edimburgo (Edinburgh Postnatal Depression Scale) e a Escala de Rastreamento de Depressão pós-parto (2).
Sintomas depressivos como disforia, insônia, fadiga e diminuição da concentração podem estar presentes tanto na tristeza pós-parto como na depressão pós-parto. Entretanto, o diagnóstico de tristeza pós-parto não requer um número mínimo de sintomas, ao passo que a depressão pós-parto requer um mínimo de 5 sintomas. Além disso, os sintomas da tristeza pós-parto geralmente são autolimitados e desaparecem em 2 semanas após o início. Por outro lado, o diagnóstico de depressão pós-parto requer que os sintomas estejam presentes por > 2 semanas.
As pacientes também devem ser avaliados para transtornos de ansiedade.
Deve-se avaliar em pacientes com alucinações, delírios ou comportamento psicótico quanto à psicose pós-parto.
Referências sobre diagnóstico
1. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): Screening and Diagnosis of Mental Health Conditions During Pregnancy and Postpartum: ACOG Clinical Practice Guideline No. 4. Obstet Gynecol. 2023;141(6):1232-1261. doi:10.1097/AOG.0000000000005200
2. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th ed, Text Revision (DSM-5-TR). American Psychiatric Association Publishing, Washington, DC, pp 184-193
Tratamento da depressão pós-parto
Zuranolona ou bradanolanol
Outros antidepressivos
Psicoterapia
O tratamento da depressão pós-parto é feito com antidepressivos e psicoterapia. Dois medicamentos foram aprovados pela U.S. Food and Drug Administration especificamente para depressão pós-parto: bradanolanol administrado por via intravenosa e zuranolona administrado por via oral. Ambos são neuroesteroides que modulam os receptores GABA-A no cérebro (1, 2, 3).
Se a mulher tem ansiedade grave, pode-se tratá-la com ansiolíticos (4).
O tratamento da psicose pós-parto normalmente requer hospitalização psiquiátrica e medicamentos antipsicóticas.
Referências sobre o tratamento da depressão pós-parto
1. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): ACOG Practice Advisory: Zuranolone for the Treatment of Postpartum Depression. Last updated January 30, 2024: Update to Clinical Practice Guideline No. 5, Treatment and Management of Mental Health Conditions During Pregnancy and Postpartum, originally published 2023.
2. Deligiannidis KM, Meltzer-Brody S, Gunduz-Bruce H, et al: Effect of Zuranolone vs Placebo in Postpartum Depression: A Randomized Clinical Trial [published correction appears in JAMA Psychiatry. 2022 Jul 1;79(7):740] [published correction appears in JAMA Psychiatry. 2023 Feb 1;80(2):191]. JAMA Psychiatry. 2021;78(9):951-959. doi:10.1001/jamapsychiatry.2021.1559
3. Epperson CN, Rubinow DR, Meltzer-Brody S, et al: Effect of brexanolone on depressive symptoms, anxiety, and insomnia in women with postpartum depression: Pooled analyses from 3 double-blind, randomized, placebo-controlled clinical trials in the HUMMINGBIRD clinical program. J Affect Disord. 2023;320:353-359. doi:10.1016/j.jad.2022.09.143
4. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): ACOG Clinical Practice Guideline No. 5: Treatment and Management of Mental Health Conditions During Pregnancy and Postpartum. Obstet Gynecol. 2023;141(6):1262-1288. doi:10.1097/AOG.0000000000005202
Pontos-chave
A tristeza pós-parto é muito comum durante a primeira semana após o parto, geralmente dura 2 a 3 dias (até 2 semanas) e é relativamente leve.
A depressão pós-parto ocorre em 10 a 15% das mulheres após o parto, dura > 2 semanas e é incapacitante (em comparação com a tristeza pós-parto).
Os sintomas são semelhantes aos da depressão maior e também podem incluir ansiedade.
A depressão pós-parto pode resultar em efeitos adversos para a criança ou estresse no relacionamento.
Ensinar todas as mulheres a reconhecer os sintomas da depressão pós-parto e perguntar a elas sobre sintomas da depressão antes e após o parto.
Triagem formal de todas as mulheres à procura de transtornos de humor durante a consulta pós-parto.
Para obter os melhores resultados possíveis, identificar e tratar a depressão pós-parto o mais rápido possível.