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Considerações gerais sobre a doença mental

PorMichael B. First, MD, Columbia University
Revisado/Corrigido: out. 2024
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Fatos rápidos

Os distúrbios mentais (psiquiátricos ou psicológicos) incluem as alterações de pensamento, emoções e/ou comportamento. Pequenas alterações nesses aspectos da vida são comuns, mas quando essas alterações causam angústia significativa a uma pessoa e/ou interferem na sua vida cotidiana, elas são consideradas doenças mentais. Os efeitos de uma doença mental podem ser duradouros ou temporários.

Embora enormes avanços tenham sido feitos na compreensão e no tratamento de doenças mentais, o estigma que as cerca persiste, e o acesso aos cuidados de saúde às vezes não é o mesmo que para doenças no geral. Por exemplo, pessoas com doenças mentais podem sentir que não podem contar a ninguém sobre seus sintomas ou doenças ou sentir que podem ser culpadas por suas doenças.

Causas da doença mental

Atualmente, considera-se que a doença mental é causada por uma interação complexa de fatores, incluindo fatores:

  • Genética

  • Biológicos (fatores físicos)

  • Psicológico

  • Ambientais (incluindo fatores sociais e culturais)

Pesquisas têm demonstrado que fatores genéticos influenciam muitas doenças de saúde mental. Muitas vezes, uma doença mental ocorre em pessoas cuja genética as torna vulneráveis ​​a esses quadros. Essa vulnerabilidade, juntamente com os estresses da vida, por exemplo, problemas com a família ou trabalho, podem dar origem ao desenvolvimento de uma doença mental.

Além disso, muitos especialistas acreditam que uma disfunção no controle dos mensageiros químicos no cérebro (neurotransmissores) pode contribuir para os transtornos de saúde mental. Técnicas de diagnóstico por imagem, como ressonância magnética (RM) e tomografia por emissão de pósitrons (TEP), frequentemente mostram alterações no cérebro de pessoas com uma doença mental. Por isso, muitos problemas de saúde mental parecem ter um componente biológico, semelhantemente aos transtornos que são considerados neurológicos (por exemplo, a doença de Alzheimer). Contudo, ainda não está claro se as alterações observadas nos exames de imagem são a causa ou o resultado do problema de saúde mental.

Diagnóstico de doença mental

Nem sempre é possível diferenciar com clareza uma doença mental de um comportamento normal. Por exemplo, pode ser difícil diferenciar a mágoa normal causada pelo luto da depressão propriamente dita em pessoas que sofreram uma perda significativa, como a morte do cônjuge ou de um filho, porque ambas englobam tristeza e humor deprimido.

Da mesma forma, decidir se o diagnóstico de um transtorno de ansiedade se aplica a pessoas que estão preocupadas e estressadas devido ao seu trabalho ou problemas pessoais pode ser desafiador, pois a maioria das pessoas sente isso em algum momento.

A diferença entre ter determinadas caraterísticas de personalidade (por exemplo, ser metódico ou organizado) e ter um distúrbio de personalidade (por exemplo, transtorno obsessivo-compulsivo) pode ser difícil de determinar.

Assim, a melhor linha de pensamento é considerar a saúde mental e a doença mental como integrantes de um espectro contínuo. Uma eventual linha divisora costuma se basear nos seguintes quesitos:

  • A gravidade dos sintomas

  • Por quanto tempo os sintomas duram

  • De que maneira os sintomas afetam a capacidade de funcionamento na vida diária

Classificação da doença mental

Em 1952, a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association) publicou pela primeira vez o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-1), que foi a primeira tentativa de abordar o diagnóstico das doenças mentais por meio de definições e critérios padronizados. A edição mais recente, DSM-5-TR, publicada em 2022, fornece um sistema de classificação que tenta separar as doenças mentais em categorias diagnósticas com base na descrição dos sintomas (ou seja, o que dizem e fazem as pessoas como reflexo do que pensam e sentem) e no curso da doença.

A Classificação Internacional de Doenças, décima-primeira revisão (CID-11), que foi inicialmente publicada pela Organização Mundial da Saúde em 2019, utiliza categorias diagnósticas semelhantes às encontradas no DSM-5-TR. . Essa semelhança indica que o diagnóstico das doenças mentais específicas está sendo feito de forma mais consistente e padronizada em todo o mundo.

Apoio social

Todas as pessoas necessitam de uma rede social para satisfazer a necessidade humana de serem tratadas, aceitas e apoiadas emocionalmente, sobretudo em períodos de estresse. Pesquisas mostram que um forte apoio social pode melhorar significativamente a recuperação de problemas de saúde e doenças mentais. Em algumas comunidades, mudanças na sociedade diminuíram o apoio tradicional oferecido por famílias, vizinhos, amigos e colegas de trabalho. Como alternativa, grupos de autoajuda e grupos de ajuda mútua existem em muitas comunidades. Há também muitas fontes digitais de apoio social, como grupos de apoio virtual. Antes de entrar em grupos presenciais ou online, a pessoa deve pesquisar o grupo para ter certeza de que ele é adequado, confirmar se ele é hospedado por um facilitador ou organização devidamente qualificados e garantir a segurança e a privacidade.

Alguns grupos de autoajuda, como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos, focam no comportamento relacionado ao vício. Outros atuam como defensores de certos segmentos da população, como pessoas com deficiência e idosos. Ademais, há centros, como a Aliança Nacional para Doentes Mentais (National Alliance for the Mentally Ill), que dão apoio aos familiares de pessoas com doenças mentais graves.

Desinstitucionalização

Em muitos países, desde a década de 1950, tem havido um movimento para fornecer cuidados a pessoas com doenças mentais que apoia sua capacidade de viver em suas próprias casas em vez de em uma instituição (desinstitucionalização). Esse movimento foi possibilitado pelo desenvolvimento de medicamentos eficazes, fornecimento de tratamento de saúde mental em ambientes comunitários sempre que clinicamente apropriado, envolvendo vários tipos de profissionais de saúde e maior aceitação pelo público geral de pessoas com uma doença mental.

Os medicamentos para tratar a doença mental tornaram-se mais eficazes e, como resultado, a necessidade de ser internado no hospital ou de uma hospitalização prolongada diminuiu. Muitas pessoas com doença mental que são hospitalizadas recebem alta am alguns dias e continuam seus cuidados em centros de tratamento durante o dia.

Os familiares também podem apoiar os cuidados de saúde mental na comunidade. Pesquisas demonstram que determinadas interações entre uma pessoa com doença mental grave e membros da família podem melhorar ou piorar a doença mental. Foram desenvolvidas técnicas de terapia familiar que envolvem familiares e impedem que pessoas com doença mental crônica precisem ser internadas.

Vários tipos de profissionais de saúde desempenham papéis importantes em ajudar uma pessoa com uma doença mental a se reintegrar na comunidade. Foram desenvolvidas novas abordagens para o tratamento que ajudam a fornecer uma rede de segurança para pessoas com doença mental grave crônica, como tratamento comunitário assertivo (TCA). O TCA utiliza uma equipe de assistentes sociais, especialistas em reabilitação, conselheiros, enfermeiras e psiquiatras. A equipe presta serviços individualizados a pessoas que sofrem de doenças mentais graves e que não podem, ou não querem, procurar auxílio médico ou uma clínica. Os serviços são prestados na casa da própria pessoa ou na vizinhança, por exemplo, em restaurantes, parques ou lojas próximas.

No entanto, encerrar a internação também envolveu muitos desafios. A substituição do tratamento e a proteção contra danos a outros ou a si próprio, que podem ser fornecidos em instituições, exigem muitos recursos de saúde e nem sempre há recursos suficientes disponíveis. Dessa forma, muitas pessoas não conseguiram obter cuidados de saúde mental e apoio para alimentação, moradia e outros serviços de que necessitam. Muitas vezes, as pessoas não têm acesso a cuidados de saúde ou são vulneráveis à falta de moradia.

Pode ser difícil fornecer o tratamento adequado quando uma pessoa com um antecedente de doença mental grave fica doente novamente. Em alguns lugares, as leis impedem que as pessoas que estão mentalmente doentes, mas que não são um perigo para si mesmas ou para a sociedade, sejam tratadas com medicamentos ou internadas contra sua vontade. Embora essas leis protejam os direitos civis das pessoas, elas tornam mais difícil fornecer os cuidados de saúde mental necessários, particularmente para pessoas cujos problemas de saúde mental as fazem não estar cientes de que estão doentes ou se tornam extremamente irracionais quando não são tratadas. As pessoas que ficam doentes novamente fora do hospital às vezes ficam sem teto ou podem ser presas pela polícia por comportamento anormal.

Mais informações

O seguinte recurso em inglês pode ser útil. Vale ressaltar que O Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. National Alliance on Mental Illness (NAMI):  Uma associação norte-americana de saúde mental que oferece aconselhamento, educação, apoio e programas e serviços de conscientização pública.

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